Passos Coelho cabeça de lista às Europeias

O presente

O PS, que se apoderou do governo e várias outras instituições (a última, a ERSE), está a surfar a crista da ténue recuperação, e a distribuir pelas clientelas as poucas folgas que ela permitiu. A comunicação “dita” social e a opinião publicada tenta com todas as suas forças derrubar Rui Rio – nem que para isso seja preciso dar palco e transformar avençados em “independentes” e recorrer aos que ainda ontem eram persona non grata (ex. André Ventura).

2019 afigura-se um ano difícil para o PSD, em termos eleitorais. As Europeias em Maio, as Regionais na Madeira em Setembro, e finalmente as Legislativas em Outubro. O PSD tem de entrar neste ciclo com uma vitória, e é por isso que faço o paralelo com 1994.

O passado

Em 1994, Portugal tinha entrado em recessão e o Governo de Cavaco Silva tinha sido obrigado a tomar medidas de austeridade fiscal, bem como outras medidas impopulares – o aumento das propinas no Ensino Superior, ou de 50% nas portagens da Ponte 25 de Abril foram as que provocaram das maiores manifestações em democracia.

O fim do “Cavaquismo” já se adivinhava, o cenário eleitoral para o PSD não era o melhor, e todos os sinais indicavam que o PSD iria entrar num ciclo complicado de derrotas nas eleições que aí vinham – nomeadamente as Europeias (ainda nesse ano de 1994) e as Legislativas (em 1995). Já se falava da saída de Cavaco e o futuro era incerto.

Só com um “golpe de mestre” o PSD tinha hipóteses de evitar uma hecatombe eleitoral. Cavaco convocou a sua A-Team. Convidou Eurico de Melo para encabeçar a lista às Europeias, acompanhado por António Capucho e Arlindo Cunha – todos ex-ministros e  nomes de peso no partido e no país.

Conseguiu também convencer Francisco Lucas Pires a concorrer pelo PSD (ele que tinha sido líder do CDS, e seu cabeça de lista cinco anos antes), e juntou-lhes Carlos Costa Neves e Nélio Mendonça, dois “pesos pesados” das regiões autónomas, para atrair os votos dos Açores e Madeira respectivamente.

As sondagens davam uma derrota significativa do PSD. As intenções de voto eram cerca de 30% no PSD e 40% no PS. O resultado viria a ser muito diferente. O PSD conseguiu 34,39% dos votos, enquanto que o PS obteve 34,87%. Em termos de deputados o PS elegeu 10 contra 9 do PSD. (os restantes 6 ficaram distribuídos igualmente por CDS e CDU).

O futuro

Tenho imenso respeito, reconhecimento e até estima por homens como Paulo Rangel, Carlos Coelho ou José Manuel Fernandes. Todos têm feito um trabalho extraordinário e meritório no Parlamento Europeu, e qualquer um dos três merecia ser cabeça de lista nas Europeias de 2019. Mas o PSD precisa de “nomes de peso” para vencer.

Na minha humilde opinião, de militante de base, Rui Rio e o PSD deviam procurar o tal “golpe de mestre”, e convidar Pedro Passos Coelho para encabeçar a lista às Europeias de Maio do próximo ano. E juntar outros “pesos pesados” a Paulo Rangel, Carlos Coelho e José Manuel Fernandes, deixando cair nomes como Fernando Ruas.

Penso ser hoje evidente a capacidade, competência, seriedade, credibilidade e sentido de missão de Pedro Passos Coelho. Isto não só é reconhecido pela maioria dos portugueses (que até lhe deram vitória nas Legislativas de 2015) como está em linha com os valores e princípios defendidos por Rui Rio. Pelo que a escolha era “na mouche”.

António Capucho vs Mário Soares. Descubra as diferenças

Há mais de uma ano escrevi sobre a polémica à volta da expulsão de António Capucho do PSD. Apesar de defender que o processo foi mal conduzido e provavelmente desnecessário critiquei fortemente o seu comportamento.

Agora sou surpreendido (não muito, para ser franco) com a notícia do Expresso “António Capucho é orador surpresa na abertura da Convenção do PS“.

António Capucho devia ter vergonha. Tudo o que de bom foi e fez no PSD (desde os tempos de Sá Carneiro e da AD) deitado pelo cano abaixo por causa de uma birra.

Não saber sair de cena pelo próprio pé acaba invariavelmente nisto… envergonhar-se a si próprio e perder o capital que tinha acumulado durante uma vida de serviço público.

O mesmo aconteceu com outros, nomeadamente com Mário Soares. A única diferença é que António Capucho tem menos 20 anos, o que torna o caso mais “grave”.

António Capucho e o paralelo com Santo Tirso

(Artigo publicado na edição de Março 2014 do jornal Notícias de Santo Tirso, e que também pode ser lido aqui)

António Capucho foi um destacadíssimo militante do PSD. A ele se devem muitas das vitórias do partido, que tiveram como consequência o trilhar de um novo rumo para um Portugal saído de décadas de Estado Novo. Alguns dizem mesmo que foi ele o “arquitecto” do sucesso da Aliança Democrática, tendo convencido Francisco Sá Carneiro (com factos, argumentos e números) que a vitória nas eleições de 1979, com maioria absoluta, só sería possível se fizesse um acordo com Diogo Freitas do Amaral (CDS) e Gonçalo Ribeiro Teles (PPM).

Foi Secretário-Geral e Vice-Presidente do PSD em momentos importantes da história do partido e do país. Foi Deputado na AR e um excelente Líder Parlamentar. Passou por 3 Governos e, apesar de 2 deles terem sido de má memória (AD com Pinto Balsemão e Bloco Central com Mário Soares), o seu papel no segundo Governo do PSD com Cavaco Silva foi muito importante. Depois veio uma relevante passagem pelo Parlamento Europeu (como Deputado e Vice-Presidente) e pela Câmara Municipal de Cascais onde deu 3 vitórias ao partido.

Este curriculum político e de serviço público era mais do que suficiente para, chegado aos 65 anos, sair da política pela porta grande como um dos grandes obreiros dos sucessos do PSD e um dos portugueses que mais contribuiram ao longo da sua vida de serviço público para o desenvolvimento de Portugal a todos os níveis: local, regional, nacional, europeu. Capucho acumulou um capital que lhe permitiria ser um importante militante de base do PSD (os verdadeiros donos do partido) e uma grande reserva intelectual do país.

Ao contrário do que alguns dizem, saber identificar a hora certa de sair de cena não é uma arte. Aquele que é sensato, racional e prudente sabe bem quando deve sair. Não porque tenha deixado de ser capaz, mas porque tem a consciência que a rotina atrai o conservadorismo e afasta a inovação. E que isso impede o desenvolvimento. Daí que, aquele que é bem intencionado e altruísta saiba que o correcto é dar o lugar a outros. Não necessariamente mais novos ou mais fortes. Mas com mentalidades novas, livres e vigorosas.

O risco de deixar passar a hora certa de sair de cena é acabar por incorrer nisso de uma forma impulsiva quando a insatisfação ou o desgaste já atingiram um nível tal que comprometem o bom senso. Foi isso que aconteceu a muitos políticos da nossa praça – dos quais Mário Soares é o exemplo mais evidente e, coitado, não tem em casa filhos com noção, que sejam capazes de pedir aos jornalistas que deixem de lhe colocar microfones na frente (já que pedir-lhe para se abster parece impossível). É isso que está a acontecer a António Capucho.

António Capucho tornou-se presunçoso, e porta-se agora como se fosse dono do partido, o único herdeiro de Sá Carneiro. Tal e qual como Mário Soares com o PS e a democracia portuguesa. Ora, o PSD não é dele nem tem de seguir o que ele diz. De qualquer maneira, o PSD sempre foi um partido democrata e pluralista! Capucho tem direito a dizer o que pensa sem ser ostracizado! E o processo da cessação da sua militância está claramente revestido de marginalização, de alguém que tem sido crítico do status quo. É isso que condeno!

Bem sei o que dizem os Estatutos do PSD. Mais, antes de começar a escrever este artigo, pedi esclarecimentos a dois amigos que integram o Conselho de Jurisdição Nacional (CJN), e que por isso tomaram parte na decisão. Portanto estou plenamente consciente de que chegada a queixa ao CJN, este desfecho era quase inevitável. “Não é uma sanção. É uma decorrência directa. O CJN não pode discutir a gradação da pena. Nestes casos os estatutos são claros”. Quase que concordo com o meu caro amigo, mas…

A verdade é que os Estatutos dizem “Cessa a inscrição no Partido dos militantes que se apresentem em qualquer acto eleitoral (…) na qualidade de candidatos , mandatários ou apoiantes de candidatura adversária da candidatura apresentada pelo PPD/PSD”. E se o CJN resolveu não aplicar a “decorrência directa” a militantes que manifestamente foram apoiantes de outras candidaturas (exemplo flagrante: Miguel Veiga apoiou Rui Moreira no Porto) também o poderia ter feito no caso de mandatários ou candidatos.

Muitos dos actuais decisores e dirigentes do PSD fizeram algo que para mim é detestável. Esconderam-se atrás de formalidades para poderem levar a cabo um processo de marginalização de alguém que lhes é incómodo. E esses são os mesmos que, quando lhes dá jeito, ultrapassam pela direita os Estatutos, as Regras e as Leis para se beneficiarem a si próprios. Aliás, os que agora se escudam nos Estatutos terão sido os que possivelmente mais vezes os contornaram no passado. Marcos Antónios à cabeça!

Mas esta discussão sobre a parte “jurídica” da coisa não é o cerne da questão. A verdade é que tudo tem início a montante. Tudo nasce de mais um vergonhoso processo de escolha de uma candidatura autárquica, em que a Comissão Política Nacional e a Comissão Política Distrital de Lisboa do PSD vetaram a candidatura de Marco Almeida à CM de Sintra, para forçarem a imposição do amigalhaço Pedro Pinto (uma das mais medíocres figuras do PSD) como candidato a Presidente daquela Autarquia em que o PSD vence desde 2001.

O dado mais relevante é que a candidatura de Marco Almeida tinha sido desejada e apoiada pelos militantes de base em Sintra, enquanto que a candidatura de Pedro Pinto foi imposta por quem tem o poder de decisão e se julga dono do partido. A consequência foi a vitória oferecida de bandeja ao PS, que apesar de ter um fraco candidato (o vira-casaca Basílio Horta) conseguiu sair vencedor. Ao apoiar Marco Almeida, António Capucho esteve portanto, em boa verdade, ao lado dos militantes de base do PSD e em dissonância com os déspotas.

Tudo isto é fácil de perceber para quem acompanhou de perto o processo de escolha do candidato autárquico do PSD em Santo Tirso. Também cá a opinião dos militantes de base foi desprezada pelos decisores, que naturalmente o fizeram propositadamente porque queriam auto-nomear-se candidatos nas listas autárquicas. Também cá a Comissão Política impôs não só um candidato – manifestamente fraco e indesejado – mas também um coligação absurda com um partido que não tem sequer representação no concelho.

Também cá os dirigentes do PSD se esconderam atrás das formalidades para justificaram as suas escolhas à revelia dos militantes. Também cá esses déspotas acabaram por sair derrotados nas urnas prejudicando o partido e o concelho. Também cá eles se apressaram a apresentar queixas aos Conselhos de Jurisdição para afastar aqueles que não os apoiaram. Também cá foram esses que, quando conveio, contornam os Estatutos (lembrar quando Alírio Canceles recuou para vogal da Comissão Política para contornar a limitação de mandatos, e poder ser presidente aquando das Autárquicas).

O mal é que este gente está tão cheia de si própria que nem sequer consegue discernir. Este tipo de episódios (o ostracizar e afastar de militantes que pensam pela própria cabeça, e de maneira diferente) é pior para o partido, para a democracia, para o país, e até para para eles.

Já as Autárquicas 2013

António Capucho vai suspender o mandato de presidente da Câmara Municipal de Cascais e Carlos Carreiras (o seu vice) irá assumir os destinos da autarquia. Recorde-se que António Capucho foi eleito pela primeira vez em 2001, sendo reeleito em 2005 e 2009.

Pela lei de limitação de mandatos, Capucho não poderá candidatar-se outra vez. Sendo assim, o PSD deverá preparar terreno para o substituto. Para não dificultar muito a vitória em 2013, o hipotético candidato deverá começar a mostrar-se (e ao trabalho) desde já.

Esta é manifestamente uma táctica política. Mas é legítima. Afinal de contas os destinos de uma autarquia são geridos por uma programa político e não por projectos unipessoais. O estilo poderá ser diferente, mas a linha de rumo deverá ser a mesma.

Note-se que isto acontecerá em muitas Câmaras Municipais do país. No que concerne ao PSD, posso referir de memória cidades importantes como: Porto, VN Gaia, Sintra ou Coimbra (onde também Carlos Encarnação já passou a pasta ao seu vice João Paulo Barbosa de Melo).