Artigo de opinião que escrevi para a rúbrica “Zona 7” do Sovolei:
Em pleno século XXI, e num país que se diz integrado na União Europeia, custa-me ver certo tipo de coisas da comunicação “dita” social. Ela, que tantas vezes serve para denunciar (e bem) certos tipos de discriminação e sectarismo, é a primeira a fazer exactamente o mesmo, em relação a certas pessoas, entidades, sectores, temas, assuntos ou questões.
A comunicação “dita” social generalista ocupa muito do seu tempo com futebol mas não dá qualquer importância a outros desportos. O que se vê na RTP-2 uma vez por semana é apenas por obrigação de serviço público, e o que se vê na SIC uma vez de 2 em 2 meses é apenas o aproveitamente de ódios e rivalidades entres alguns imbecis adeptos dos grandes clubes.
Nenhum dos canais de televisão ou dos jornais de tiragem nacional generalistas dedica um minuto ou uma linha ao Voleibol, o 2º desporto mais praticado em Portugal, logo a seguir ao futebol. Já os jornais desportivos, uns dedicam a esta modalidade 50 linhas por semana, outros nem isso sequer. No entanto, dedicam páginas inteiras ao Golf e às Apostas, por exemplo.
O que causa esta minha revolta foi há dias ter visto no Telejornal da RTP, em horário nobre, uma notícia sobre a Selecção Nacional Masculina de Voleibol, que disputa a Liga Mundial 2011. Os menos atentos perguntarão porque estou então revoltado? É que a notícia só apareceu porque a comitiva ficou retida num aeroporto devido a uma nuvem provocada por um vulcão.
Ou seja, nem antes, nem durante, nem depois da notícia, foi feita alguma referência ao facto de a Selecção estar a disputar uma das mais importantes competições mundiais. Nem sequer foi dito que nessa altura estava na luta pela qualificação para a fase final, por ter já conseguido importantes vitórias sobre selecções bem mais cotadas e poderosas.
É incrível como pôde a mais antiga e importante estação de televisão de Portugal, dar uma notícia sobre o facto de uma Selecção Nacional estar retida por causa de uma catástrofe (e isso sim é que interessa para as audiências), sem sequer se ter dignado a saber o que ali fazia. O mesmo aconteceu quando essa mesma Selecção venceu a Liga Europeia em 2009.
No fim-de-semana que passou, estiveram em Portugal – numa “clinic” na praia de Canidelo em V.N. Gaia – Larissa e Juliana. As duas brasileiras são as melhores atletas de sempre do voleibol de praia, com vários títulos de Campeãs Mundiais, o mais recente conquistado há bem pouco tempo. Não houve um orgão de comunicação “dita” social que divulgasse isto.
Mas não tenho dúvida que, se aterrasse amanhã, no aeroporto de Lisboa, do Porto, de Faro, ou até de Beja, a namorada do Cristiano Ronaldo, iriam estar lá para a ver chegar todas as televisões, jornais e revistas. Os mesmos que, no(s) dia(s) seguinte(s) iriam encher minutos e páginas a fio com reportagens e imagens sobre coisas que não interessam nem à própria.
É esta a comunicação “dita” social que temos em Portugal. Uma comunicação “dita” social que foge ao seu dever principal (e também a sua razão de existir) de informar, preferindo ser veículo de divulgação de interesses e de lobbies milionários. Sim, porque o Futebol é isso mesmo, apenas um negócio que dá milhões a muita gente, porque de desporto já tem muito pouco.