A “febre” por Rui Rio

O meu artigo de opinião, publicado na edição de Janeiro 2014 do Jornal Notícias de Santo Tirso:

Ao contrário do que muitos pensam, alguns dizem e outros tomam como válido, a política não é um jogo táctico onde se luta pelo Poder. Não é uma batalha de ideologias onde se tenta levar a melhor sobre os adversários. Não é uma luta em que uns estão de um lado e outros estão do outro, e quem não está comigo está contra mim. Não é um sistema em que o mais forte tem logicamente que ser mais beneficiado – a isso chama-se selva e não política. Na política não se pode querer responsabilizar sempre quem está no Poder e desculpabilizar a oposição. A política não é algo abstracto.

Nesse sentido, e como venho dizendo há muitos anos, Rui Rio é o melhor político da actualidade – no verdadeira sentido da palavra “político”. É competente na organização, na liderança, na administração dos assuntos públicos. É honesto, responsável, íntegro, rigoroso, exigente, de grande carácter e personalidade. Não tenta iludir os eleitores, cumpre a sua palavra e as suas promessas. Não cede a interesses pessoais, partidários ou corporativos. Tem sentido de missão e como objectivo último, na sua acção, o bem estar geral da população (estando plenamente consciente que nunca conseguirá agradar a todos).

Nos últimos 12 anos, sem grandes espectáculos, sem grande alarde, e sem sede de protagonismo, Rui Rio foi zelando pelo Porto e servindo os portuenses. Mais do que isso, em certas ocasiões saiu mesmo em defesa do Norte – região trabalhadora e tantas vezes desprezada pelo poder de Lisboa. Rui Rio fez no Porto um trabalho quase sempre invisível. Apenas porque o que ele faz não interessa aos meios de comunicação “dita” social de maior tiragem. É que a seriedade, a exigência, o rigor ou o trabalho não vendem. Só se falava em Rio quando havia polémica (Bolhão, Rivoli, etc.). Rio disse “O esforço da CM Porto tem sido investir onde é mais necessário, e não onde se consegue mais popularidade politica e mediática“.

Rui Rio nunca ficou em silêncio quando o dever o chamava a dar opinião. Mesmo que ela atingisse o seu próprio partido, a sua própria região, o seu próprio país ou mesmo as suas instituições. Fê-lo sempre com um discurso coerente e firme, sempre de forma convicta e frontal, sem medo das palavras ou do que a comunicação “dita” social poderia retirar delas. E fê-lo sempre de forma respeitosa, nunca populista ou demagógica. Foi talvez o único que, após uma crítica negativa, apresentava uma alternativa ou solução viáveis. Nunca se deixou levar pela espuma dos dias ou pela pressão da opinião pública e publicada.

Conheci Rui Rio há 14 anos. Partilhamos o mesmo hotel (Hotel Montebelo) no Congresso do PSD de Viseu em que Durão Barroso venceu a liderança do PSD, tendo-a disputado com Santana Lopes e Marques Mendes. Acima de tudo tive a oportunidade de o ouvir enquanto discutia a política, o país e o partido com o meu avô – durante o jantar, ou no bar do hotel acompanhado de um café ou um digestivo. Fiquei logo com a impressão de que era um homem imbuído do tal sentido de missão que eu tinha aprendido ser fundamental, e que era desinteressado e honrado, com comportamento exemplar.

A sua acção nos últimos anos veio comprovar o que previ (não o que professei mas o que supus ou imaginei). Daí que por diversas vezes o tenha dado como exemplo, o tenha defendido e até sugerido para liderar o PSD e o país. Sem surpresa estive quase sempre isolado. A maioria não gostava de Rui Rio. Achava-o arrogante, altivo, cinzento, chato. Preferia o “circo” montado por “políticos” que, no fundo, iludiam as pessoas com máscaras de humildade, com discursos mentirosos e com realidades fantasiosas. O resultado está à vista: Portugal na bancarrota, os portugueses afundados em austeridade, e um futuro negro à vista.

Ao contrário do que muitos pensam, alguns dizem e outros querem fazer crer, estou convencido que Rui Rio nunca teve ambição de ser nada – aliás o próprio já o disse as mais variadíssimas vezes. As suas acções nunca tiveram aquela segunda intenção que é usual ver nos “políticos”: a de se manter no Poder a tudo o custo, ou a de se posicionar para o futuro. Eu sei que, para quem está habituado a Sócrates, Costas, Marcelos, Marques Mendes e afins, é difícil acreditar. Mas não são todos iguais. E estou convencido de que Rui Rio não é, definitivamente, igual a estes ou outros que passaram pelas cadeiras do Poder, e tanto mal fizeram ao país.

Claro que eventos como os recentes – de uma vaga de fundo por Rui Rio, para suceder a Passos Coelho como presidente do PSD e Primeiro-Ministro – não ajudam a acreditar que ele está “inocente”. Porque – como é habitual nos “políticos” profissionais – há sempre a ideia de que é o próprio que está por detrás dos “testas de ferro” a orquestrar a sua ascenção ao Poder. Estou convencido que não. Quero acreditar que Rui Rio nada tem a ver com esta repentina “febre” à sua volta. Estou convicto que esta “febre” está assente em duas razões:

1) Os “tubarões” do PSD e do mundo empresarial ligado ao centro-direita estão a ver o tapete a fugir-lhes em 2015. Com as medidas que Passos Coelho e o seu Governo têm tomado começa a parecer evidente que o PSD irá perder as Legislativas 2015. A acontecer, esses “tubarões” perdem a sua influência, o seu Poder e a colher para continuarem a comer da gamela do Orçamento de Estado. Vai daí resolvem virar-se para aquela que lhes parece a única opção viável para continuarem a servir-se depois de 2015. Passos já deu o que tinha a dar, viram-se para Rio.

2) Os portugueses chegaram a um estado de desespero tal que já duvidam daquilo em que acreditaram nos últimos 20 anos. Aliás, muitos estão já definitivamente convencidos que andaram mesmo a eleger os políticos errados. Já deram conta que o país não vai sair do buraco com homens demagogos, populistas e mais interessados no seu umbigo e na luta partidária. Vai daí viram-se para aquele sobre o qual tem havido professias de que será o “messias” – o habitual “sebastianismo” português, tantas vezes visto e revisto ao longo das últimas décadas.

Estou em crer que Rui Rio não se deixará levar por esta “vaga de fundo”. Mas naturalmente, como homem responsável que é, e tendo um profundo sentido de missão, não se irá demitir das suas responsabilidades. Mas apenas se o país (e não um grupo de “notáveis”) o chamar a governar e, acima de tudo, lhe der as condições ideais para tal – não falo em maiorias no parlamento, mas uma mudança profunda de mentalidades.

6 Responses to A “febre” por Rui Rio

  1. Joaquim Pinto diz:

    A entrevista de Zé Pedro Miranda ao Jornal “notícias de Santo Tirso” fez-me recordar o início da carreira política do Tino de Rans. Com uma diferença significativa: O Tino afirmou-se, já o Zé Pedro, elegeu-se como o “COITADINHO”.
    Coitadinho, porque não queria ser candidato à junta de Santo Tirso, S. Cristina do Couto, S. Miguel o Couto e Burgães, foi empurrado pelas tenebrosas forças do mal. O rapaz só foi candidato porque pensou com o coração e não com a cabeça/razão. “O desafio era difícil” desabafou! Não estava preparado para altos voos, dedução minha!
    Coitadinho, com a emoção de ganhar por mês cerca de 2.100 euros, (remuneração do presidente da junta a tempo inteiro), não conseguiu pensar, ou melhor, raciocinar e vai daí… arriscou!?
    Coitadinho, porque as ditas forças do mal não o “CONVIDARAM” para ser candidato à câmara. Se o tivessem feito, o CORAÇÃO falaria mais alto (outra vez o coração…)! É certo que não se pronunciou sobre a exigência do desafio (depreende-se que tenha pensado que com ele eram favas contadas, digo eu!).
    Coitadinho, porque afinal sempre quer voar (…a nível profissional e familiar…) e não está de momento disponível para novos desafios, leia-se voos (agora já ouviu a voz da razão). Quem sabe mais tarde…. pode ser que….valha-meu Deus!
    Coitadinho, porque é um incompreendido (vejam lá… ganhou a junta de freguesia de Santo Tirso, onde era presidente e onde o PSD ganha desde 2001, com mais votos do que os conquistados por ele, é verdade, mas…). Os “malandros” eleitores das freguesias de S. Cristina do Couto, S. Miguel e Burgães, é que são “socialistas” porque se fossem do PSD, ele teria ganho, com toda certeza! Coitadinho…..
    Coitadinho, porque só agora é que descobriu que afinal o ex-presidente da câmara descriminou a freguesia que ele liderou durante 4 anos (nunca se ouviu uma palavra a este respeito). Mais vale tarde do que nunca!
    Coitadinho, porque foi derrotado por um individuo “MENOR” na escala social (quem é Jorge Gomes para se atrever a enfrentar José Pedro Moreda de Miranda, quem é, quem é?).
    Coitadinho, porque nesta entrevista perdeu uma grande oportunidade de mostrar aos Tirsenses que estava à altura do cargo a que se candidatou, e já agora evidenciar a qualidade, que alguns dos seus amigos, achavam que ele tinha. Disse achava! Depois desta entrevista fico com sérias dúvidas?? Zé não poderias ter pregado esta partida aos teus amigos… e agora? com que cara é que eles vão dizer que és o melhor do mundo e arredores?
    Coitadinho? porque SIM! Porque ao assumir esta postura pareceu-lhe mais fácil fugir às suas responsabilidades. Enfim… este é o verdadeiro, genuíno e velho Zé Pedro Moreda de Miranda.

    • Chocolate diz:

      Também havia rumores que jorge gomes gostavaa do jogo,mesmo assim venceu,já se sabe que foram os socialistas que votaram nele.

  2. Joaquim Pinto diz:

    Não sou o autor do texto mas estou plenamente de acordo com o seu conteúdo e por isso o divulguei.

  3. Chocolate diz:

    Porque é que a base do PSD mamona gosta do Rui RIO e não gosta do Passos Coelho?,porque passos Coelho está muito à frente.Mas o actual presidente da Camara do Porto nao deve valer nada.

  4. Joaquim Pinto diz:

    Estranho que alguns dos amigos do Zé Pedro Miranda se tenham remetido ao silêncio. Será que ficaram envergonhados com a qualidade da entrevista? Talvez hoje se percebam os motivos que levaram os eleitores a preterir do Zé Pedro Miranda.

  5. tenisginasio diz:

    Adorei este teu artigo (como todos os outros). Continua

    Quoting Era mais um fino : > > > > Luis Melo posted: “O meu artigo de opinião, publicado na edição de > Janeiro 2014 do Jornal Notícias de Santo Tirso: Ao contrário do que > muitos pensam, alguns dizem e outros tomam como válido, a política > não é um jogo táctico onde se luta pelo Poder. Não é uma batalha de > ide” > > > > > >

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