A investigação da TVI “Para onde vai o dinheiro que a Raríssimas recebe” é de valor e vale a pena ver. Reportagens desta natureza e com esta qualidade são verdadeiro serviço público de televisão. E já que a RTP não o faz, porque está controlada por quem exerce o poder executivo no governo, ao menos que outras o façam.
O que é agora denunciado pela TVI só surpreende quem andam propositadamente a tapar os olhos com as próprias mãos. Porque todos nós temos conhecimentos de casos semelhantes em empresas privadas e públicas, gabinetes políticos, organizações não governamentais e instituições (ditas) de solidariedade.
É preciso ter provas, como as que a TVI apresentou, para que se possa acusar esta gente – sim “acusar”, o que em Portugal está a anos-luz de “condenar”. Mas não é preciso ter provas para saber o que se passa. Para isso basta ter conhecimento ou assistir a certas atitudes, comportamentos e práticas.
Exemplos disso estão bem patentes nesta reportagem, no vídeo em que a ladra que preside à Rarissimas fala do Presidente da República e de como os funcionários devem agir durante da sua visita. Bem como do vídeo em que ameaça os mesmos funcionários de despedimento caso não façam vénia à passagem da madame.
Outros exemplos estão bem demonstrados na mentalidade e práticas. Como achar que teria de se apresentar em carros de luxo ou vestida por marcas de renome. Ou no facto de tanto marido como filho serem empregados pela instituição com ordenados absolutamente desproporcionais.
Gente que fala com a sobranceria e arrogância ou com o desrespeito e desprezo pelos funcionários que é visível nos vídeos apresentados, é gente que não tem perfil para liderar uma ninhada de ratazanas. Quando mais uma instituição que recebe dinheiro dos contribuintes para ajudar crianças com deficiência.
Gente sem carácter e sem integridade. Que naturalmente só chega a estas posições se for ajudada ou empurrada por gente da mesma laia. Gente como o Ministro Vieira da Silva, o Secretário de Estado Manuel Delgado, ou a Deputada Sónia Fertuzinhos (mulher daquele). Que parecem sido cúmplices e coniventes, mas também beneficiados.
E parace-me óbvio que chegando lá, só se mantêm, roubando cada vez mais, se outros forem incompetentes e irresponsáveis. Caso dos muitos que se prestaram a visitas e fotografias ao lado ladra. Desde Maria Cavaco Silva a Marcelo Rebelo de Sousa. Ou vários dirigentes políticos e públicos, incluindo deputados (até a Tirsense Andreia Neto)
Gente que tinha obrigação de ter mais cuidado quando ajuda ou promove alguém. Se tivessem o mínimo de interesse na causa e no problema, sentido de responsabilidade, ou respeito pelo dinheiro do contribuinte, informavam-se antes de se colocarem a si, ou a quem representam, ao lado de semelhante gente.