Trump vs Obama – a opinião de um Cubano

27/04/2017

São 23:00 em Las Vegas, no estado de Nevada, Estados Unidos da América. Chamo um Uber para me levar ao hotel, e o Rodolfo aparece em 2 minutos. O Rodolfo é simpático, diz que nos vai levar pela “strip”, apesar de o GPS aconselhar a auto-estrada (interstate 15), porque afinal de contas estamos de visita e é sempre bonito ver as luzes e o buzz.

Depois de responder que somos de Portugal, devolvo a pergunta. O Rodolfo é cubano. Está nos EUA há 20 anos, e tem a mulher, filhos, irmãos e sobrinhos em Vegas. Pergunto se visitou Cuba desde que chegou aos EUA. Rodolfo diz que sim, um par de vezes. Mas que não quer voltar, nem gosta muito de lá ir.

Pede para não confundir. Diz que é um orgulhoso cubano, que Cuba é linda e que deviamos mesmo lá ir. A comida, as praias, o mar, as cidades. Diz que tudo é lindo e vale a pena visitar. Mas para viver… “Não sou comunista. O comunismo não é bom para as pessoas“.

A minha mulher pergunta então o que acha de Donald Trump e acho que ambos esperávamos uma onomatopeia e um torcer de nariz. Mas… “Trump has not messed with us. I have no complaint”… e mais “Obama was the one who passed a law which would not allow cubans from coming to the USA and stay“.


Eleições no Reino Unido. A minha opinião e paralelo

09/05/2015

Cheguei a Londres em Março de 2012. Desde essa altura que todas as sondagens davam a vitória (mais ou menos folgada) a Ed Miliband, líder to Partido Trabalhista. Um homem que não foge ao padrão do político do século XXI. Iniciou-se na política com 25 anos. Antes disso estudára na University of Oxford e na London School of Economics, seguindo-se uma curta passagem no Channel 4, como apresentador de um programa sobre política.

A verdade é que o perfil, e o histórico pessoal e profissional não era muito diferente de David Cameron, líder do Partido Conservador e Primeiro-Ministro. Também ele se iniciou na política com 20 e poucos anos, juntando-se ao Partido Conservador logo após concluír a sua licenciatura na University of Oxford. Sendo que o único emprego fora da política que se lhe conhece é como Director de um grupo de média que detinha vários canais de TV.

Quando cheguei ao Reino Unido, em 2012, as semelhanças com Portugal eram enormes (apesar de os problemas e as dificuldades serem de dimensões completamente diferentes).

  1. Dois anos antes, um Governo do Partido Trabalhista tinha deixado o país em mau estado.
  2. O líder da oposição, Ed Miliband, tinha sido Ministro desse Governo (de Gordon Brown).
  3. O Governo em funções era de coligação – Partido Conservador e Liberais-Democratas.
  4. O Primeiro-Ministro David Cameron via-se forçado a aplicar medidas de austeridade.
  5. Apesar de ter sido cúmplice e co-responsável, Ed Miliband bramava contra a actuação do Governo.
  6. O resto da oposição e os média aliavam-se ao protesto e indignação dos trabalhistas.

A verdade é que os sinais positivos iam aparecendo aos poucos, mas a grande velocidade. Todos os índices estavam a ir na direcção desejada. Emprego a crescer, défice a estabilizar, serviços a melhorar. E como bónus os impostos sobre o rendimento desciam (o Personal Allowance subiu de £8,000 para £10,000 em 3 anos).

O Primeiro-Ministro ia cumprindo algumas promessas, batendo o pé à UE ou avançando com o referendo por uma Escócia independente. E ia avisando sobre medidas que intencionava implementar, como o fim do turismo de saúde (estrangeiros que entram no Reino Unido apenas para se aproveitar do NHS – serviço nacional de saúde) e do equivalente ao rendimento mínimo garantido, para qualquer pessoa (nacional ou estrangeira) que vivesse no país.

Naturalmente que muitas outras promessas foram quebradas e medidas esquecidas, mas a verdade é que David Cameron e o Partido Conservador se centraram naquelas que sabiam ter mais impacto na sociedade e aceitação no eleitorado.

Chegados à campanha eleitoral…

  1. Ed Miliband e o Partido Trabalhista, resolveram radicalizar ainda mais o seu discurso (talvez a reboque de Syrizas, Podemos e afins). Adoptando um discurso demagógico e fazendo promessas populistas.
  2. Nick Clegg e os Liberais-Democratas, parceiros de coligação no Governo, resolveram culpar David Cameron e o Partido Conservador pela austeridade e erros do Governo, e ao mesmo tempo reclamar para si os louros das boas decisões.
  3. David Cameron optou por manter a postura de responsabilidade e sentido de Estado. Reconhecendo a austeridade e afirmando que era um mal necessário, que começava a dar frutos. Poucas ou nenhumas vezes acusando o Partido Trabalhista de ser o responsável pela situação que encontrou.

Mas acima de tudo, a mensagem que David Cameron tentou passar aos eleitores foi a de deixarem o Partido Conservador, no Governo, terminar o trabalho que iniciou. Foram 5 anos difíceis para endireitar o país. E agora, quando as coisas começavam a tomar o caminho certo, não deitar tudo a perder, desperdiçando os sacrifícios feitos ao longo de tanto tempo.

Contra todas as expectativas o Partido Conservador de David Cameron venceu as eleições com uma confortável maioria absoluta. Só precisava de 323 deputados (porque o Sinn Fein normalmente não ocupa os seus lugares de deputados em Westminster) e obteve 331, mais 24 do que nas últimas eleições.

O Partido Trabalhista de Ed Miliband pagou caro pela demagogia e populismo adoptados. Perdeu 26 deputados. Os Liberais-Democratas pagaram ainda mais caro por tentarem desmarcar-se das decisões impopulares e de austeridade que o governo, do qual eram parceiros, teve de tomar. Perdeu 49 deputados.

Em Portugal, o resultado das eleições Legislativas 2015 poderia também ser semelhante. Mas provavelmente não será. Primeiro porque o parceiro minoritário no Governo (o CDS) não é tão estúpido como foram os Liberais-Democratas (aliás já se sabe que a coligação PSD/CDS se mantém para as eleições), e depois porque o povo português tem provado até hoje ser um bocadinho mais estúpido (a exercer o seu voto) do que o povo do Reino Unido.

Oxalá eu esteja enganado…


Pilotos?… Para mim só militares

28/03/2015

Piloto de avião comercial é uma função para a qual é preciso ter extraordinárias capacidades físicas, psíquicas, cognitivas, mentais, intelectuais. É uma profissão na qual é preciso ter extraordinários valores morais e princípios éticos.

Só o mais equilibrado, apto, competente e hábil deveria ser autorizado a concorrer para uma vaga de piloto de avião comercial. E deveria ser obrigatório ter “atrás de si” uma experiência de vôo vastíssima e imaculada.

Há apenas uma “classe” a quem todas estas capacidades são reconhecidas de imediato. Os pilotos de aviões de combate (mais conhecidos por “caças”). Naturalmente militares, e escolhidos entre os melhores, depois de exigentes testes.

Não acho salutar que se deixe outro tipo de pessoa chegar aos comandos de um avião comercial. Alguém que foi hospedeira, comissário de bordo, contabilista, engenheiro ou motorista dos STCP.

Naturalmente que haverá gente que acabaria por ser tão bom ou melhor do que os tais militares. Tenho a certeza que os há por aí. Mas seria, como sempre, a excepção à regra. E por essa não vale a pena correr o risco.

E naturalmente que, mesmo assim, todos os que são pilotos deveriam passar por exigentíssimos e frequentíssimos testes, às suas capacidades e conhecimento técnico (ao contrário dos professores que já sabem tudo e não precisam de ser avaliados).

A verdade é que um piloto de avião de combate inicia a carreira aos 20 e tais, e aos 30 e poucos já é “velho” para a função. Pelo que quase todos podem, nessa altura, ir para aviação comercial (alguns vão mesmo). Onde podem por em prática as suas capacidades, conhecimento e experiência, até aos 50 e tais.


Emigrante, Saudade e o Triste Fado

04/01/2015

Tal como todos os emigrantes, fui a Portugal passar o período de Natal e Ano Novo, para estar com a família e com os amigos. Um dia antes de regressar a Londres estava a passar a tarde com amigos quando um desconhecido me é apresentado. Como é natural, quem nos apresentou acrescentou que eu estava a viver no Reino Unido e tinha vindo passar férias. Vai daí o tal desconhecido, com ar grave, comentou: “Pois… eu sei como é… tenho muitos amigos que infelizmente estão lá fora”.

Confesso que o ar circunspecto e a palavra “infelizmente” me incomodou, mas por respeito ao amigo que temos em comum, e por estarmos rodeados de mais gente, entendi ignorar e fazer de conta que não ouvi. Ao contrário de outras, aquela não era a melhor situação para entrar num argumento. Até porque o que eu tinha para dizer iria deixar mal aquela pessoa. Apesar de provavelmente ela merecer ficar mal, por ser tão pobre de espírito e ter feito o despropositado comentário.

A verdade é que aquela pessoa julgou que com o comentário me agradaria, bem como ao resto da plateia. Achou que estava a dizer uma grande coisa, que lhe ficaria bem naquela situação. Para lhe dar mais alento, eu deixei passar, e quase todos os presentes (mesmo aqueles que me conheciam) fizeram uma expressão de anuência com aquela cara meio triste meio conformado, colando-me aquele selo de pobre coitado obrigado pelo Governo a deixar o país.

Irritou-me profundamente, e noutra qualquer situação eu teria retorquido. Mas, como disse, por várias razões, naquela altura deixei passar (apesar de, desde então, me roer por dentro por ter ficado calado, daí este post). É que odeio esta ideia estúpida e generalizada de que emigrar é mau. Que só emigra quem está desesperado e a isso foi obrigado. Que quem emigra está pior do que se estivesse em casa. Em Portugal é políticamente correcto ter pena do emigrante.

Ao contrário da maioria dos calimeros (*) a quem a comunicação “dita” social dá destaque, estou felicíssimo a viver em Londres. Depois de estudar 6 meses em França (Erasmus), emigrar era algo que procurava desde o início da minha carreira profissional. Foi uma decisão planeada e amadurecida, não fruto de qualquer conjuntura (aliás, tinha emprego seguro, numa das melhores empresas do país). Foi a melhor decisão que tomei, e tem-me permitido crescer e realizar muito mais.

Desde que deixei Portugal tive o prazer de conhecer dezenas de outros emigrantes portugueses (não só no Reino Unido mas em vários países da Europa e de outros continentes). Posso afiançar e testemunhar que a grande maioria deles emigrou por vontade própria (ninguém ou nada os obrigou) e que, acima de tudo, está feliz com a vida que leva na cidade/país que escolheu. Pelo que a ideia e comentários de que somos alvo só demonstram a tacanhez de uma parte do povo portuga.

Para que não haja dúvidas, todos nós adoramos Portugal, as nossas cidades natal, as nossas famílias, os nossos amigos. Todos gostamos de voltar sempre que podemos, e no regresso trazer as alheiras, o vinho, o bacalhau e as bolachas maria (entre muita outra coisa). Mas ao contrário do que diz o fado, Saudade não significa necessáriamente melancolia. Quando a palavra foi criada (séc. XVI) e até há 20 anos atrás, a solidão consumia quem ia para longe. Hoje, no mundo globalizado do séc. XXI, isso notoriamente não acontece, nem nada disso faz sentido.

* ler artigo do Nuno Abrantes Ferreira há precisamente 1 ano no Público


O meu 11 de Setembro

11/09/2014

11 Setembro 2001. Já lá vão 13 anos. Nessa altura era eu estudande universitário, na FEUP, e estava em minha casa, no Porto, onde vivia com 3 amigos de Santo Tirso.

7:58 a.m. – Voo 175 da United Airlines parte de Boston com destino a Los Angeles, com 56 passageiros, 2 pilotos e 7 hospedeiras. O Boeing 767 é desviado e levado para Nova York.

7:59 a.m. – Voo 11 da American Airlines parte de Boston com destino a Los Angeles, com 81 passageiros, 2 pilotos e 9 hospedeiras. O Boeing 767 é também desviado e levado para Nova York.

8:01 a.m. – Voo 93 da United Airlines, um Boeing 757 levando 38 passageiros, 2 pilotos e 5 hospedeiras, parte de Newark para São Francisco.

8:10 a.m. – Voo 77 da American Airlines parte de Washington para Los Angeles, levando a bordo 58 passageiros, 2 pilotos e 4 hospedeiras. O Boeing 757 é desviado logo após descolar.

8:46 a.m. – Voo 11 da American Airlines despenha-se contra a torre norte do World Trade Center. (Acordo uns minutos depois e ligo a CNN. Fico sem reacção, a minha irmã, tia e prima estão em Nova York)

9:03 a.m. – Voo 175 da United Airlines despenha-se contra a torre sul do World Trade Center. (Se a preocupação era muita, desmesurou-se, multiplico-me em telefonemas que não chegam nem a casa, nem a Nova York)

9:21 a.m. – Todas as pontes e túneis que levam a Nova York são fechados. (Alguem já conseguiu falar com elas, estão bem. Tinham ido a um outlet fora de Manhattan.)

9:25 a.m. – Todos os voos, são obrigados a aterrar pela Administração de Aviação Federal. (O meu telefone não para de tocar. Todos os amigos que sabem, ligam a perguntar pela minha irmã)

9:45 a.m. – Voo 77 da American Airlines despenha-se contra o Pentágono. (Elas estão “presas” fora de Manhattan e estão a ser levadas para um hotel onde irão pernoitar)

10:05 a.m. – A torre Sul do World Trade Center cai. (Nem quero acreditar no que vejo. Nunca pensei que caíssem as torres. Alguns especialistas na TV diziam que era impossível)

10:10 a.m. – Voo 93 da United Airlines despenha-se numa floresta da Pensylvania. (Graças ao esforço e coragem de alguns passageiros que confrontaram os terroristas)

10:28 a.m. – A torre Norte do World Trade Center cai. (Foi o fim de um espectáculo horrível. Ver pessoas a atirarem-se das janelas… é o desespero)

(Depois de um par de dias fora de Manhattan com a “roupa do corpo”, a minha irmã,  tia e prima voltaram ao hotel em Manhattan, e logo depois o retorno à Europa, num dos primeiros vôos que saiu de NY. Horas passadas e estavam em casa. Em Portugal. Fica o susto. E algo mais… elas tinham bilhete para subir ao World Trade Center na noite do dia 11. Isto porque a minha tia já tinha estado em NY e tinha subido ao WTC de dia)


NY… a minha experiência e 3 curiosidades

07/09/2014

Acabei de chegar de uma semana de férias em Nova York. As expectativas eram altas, e a cidade esteve à altura. Uma verdadeira metrópole, tal como eu gosto. Era capaz de lá viver (quem sabe se não acontecerá um dia 🙂 ), mas honestamente continuo a preferir Londres.

As avenidas, os arranha-céus, o Hudson e as suas pontes, os parques, as lojas e department stores, os restaurantes e bares para todos os gostos, a multiculturalidade. O frenesim da metrópole. Não falta nada, como seria de esperar, à cidade que nunca dorme. Mas nem tudo é bom.

O melhor exemplo é Times Square. Perdi a conta à quantidade de amigos e conhecidos que me falaram bem. De como era “espectacular” e de como “dariam tudo” para passar lá um fim-de-ano. Pois, achei a coisa mais horrível de NY. Tempo perdido. Uma zona para turista parôlo ver e apreciar. E não, não fui à estátua da Liberdade nem ao topo do Empire.

O melhor que vi – e infelizmente não vi tudo o que queria – foi o Natural History Museum, o Metropolitan Museum, o Central Park, a vista de NY do topo do Rockefeller, Manhattan vista de Brooklyn, a travessia da Brooklyn Bridge, a Grand Central Station, o Hudson River Park. Entre muitas outras coisas que não são ícones.

Todos os dias comi e bebi bem, em locais aconselhados por quem sabe e conhece. E cumpri mais um desejo com muitos anos ao estar no US Open, e poder assistir a 2 jogos dos quartos-de-final no Arthur Ashe, um espectacular estádio de ténis com capacidade para mais de 22.000 pessoas.

De resto, 3 factos curiosos em que reparei nesta minha primeira e curta estadia…

  1. Espanhol é de facto a segunda língua mais falada em NY. Com toda a certeza por influência dos muitos imigrantes vindos dos países da América do Sul. Incrível a quantidade de sinais e avisos escritos em Inglês e Espanhol.
  2. (praticamente) Não existem carros franceses ou italianos. Mais do que se verem marcas de automóveis pouco usuais ou inexistentes na Europa – Lincoln, Mercury, etc. – não se vêem (pelo menos eu não vi) Citroen, Renault, Fiat ou Alfa Romeu – marcas com muitas vendas na Europa.
  3. Enorme quantidade de pequenos bancos, que abriram depois do “crash” de 2008, aproveitando a desconfiança das pessoas em relação às grandes instituições financeiras. Conquistando clientes com base no “serviço” e na “experiência”, mais do que nas vantagens financeiras.

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Um genocídio decorre enquanto o mundo olha para o lado

24/08/2014

Enquanto um genocídio toma lugar na Síria e no Iraque – cometido por uma organização que dá pelo nome de “Estado Islâmico” – a opinião pública e publicada, bem como muita gente anónima no Mundo, indigna-se contra Israel e os seus ataques sobre o Hamas.

Duas notas…

Os israelitas estão a tentar acabar (dizimar, mesmo, essa é a verdade) uma organização terrorista. O estado Israelita não tem, nem nunca teve, qualquer intenção a não ser defender o seu território na Palestina.

O “Estado Islâmico” (seja lá o que isso for) já afirmou claramente que, depois de controlar alguns países do Médio Oriente, quer estender-se ao ocidente, nomedadamente à Europa e Estados Unidos da América “afogando as suas populações infiéis no próprio sangue“.

Só não está preocupado com isto quem anda a dormir. E é a dormir que muita gente morre. Ver para crer, os seguintes vídeos (de entre as dezenas que nos últimos dias/semanas têm corrido as redes sociais).


Conflito Israelo-Palestiniano. Gasolina para a mente

20/07/2014

Nos últimos tempos, os portugueses foram como que obrigados a economizar. E a maioria levou-o longe demais. A crise levou a maioria dos portugueses não só a economizar no seu rendimento mas acima de tudo a economizar no seu intelecto.

Já sabiamos que a maioria dos portugueses tinham opinião sobre tudo e mais alguma coisa. Era como se houvesse um pouco de Nuno Rogeiro em cada um. Mas nos últimos tempos começaram a opinar sobre tudo de forma superficial. Como se o vírus Prof. Marcelo tivesse atacado.

Bem sei que isso se deve muito à quantidade e à velocidade a que a informação nos é passada hoje, através da internet e das redes sociais. Mas custa-me a aceitar que isso seja desculpa para que a maioria escreva e diga coisas ignorando profundamente a realidade.

Pelo contrário. Em 5 minutos qualquer ignorante (Dicionário da Língua Portuguesa: aquele que não sabe ou não tem conhecimento) pode, através da internet, encontrar informação que lhe permita ter uma ideia ou ajude a construir uma opinião minimamente fundada.

Isto vem a propósito das coisas que tenho lido e ouvido nos últimos dias sobre o conflito israelo-palestiniano. Em que a maioria alinha pelo diapasão e pelo que é considerado – em Portugal – políticamente correcto. Isto é, os Israelitas são os “maus” e os Palestinianos são os “bons”.

Contar-se-ão pelos dedos de uma mão, aqueles que, quando questionados, serão capazes de explicar e argumentar esta sua opinião. Opinião essa que tem de tudo menos “sua”. É apenas a opinião de “todos”. A da “maioria”. Aquela que à partida parece a melhor.

Tenho muitos amigos que se deixam caír nesta tentação. E como os prezo, tenho entrado em saudáveis discussões com alguns deles. Tentando evitar que sejam confundidos com carneiros, sem capacidade intelectual ou personalidade, tomando para si a opinião que “fica bem”.

O que tenho feito é simples. Apresento alguns factos e opiniões, na esperança que estes os façam ligar o motor do intelecto. É que se há assuntos que não são passíveis de terem apenas um lado A e um lado B, o conflito israelo-palestiniano é um deles.

Há o lado religioso, mas também o lado político, geográfico, militar, histórico, etc. Há milhares de anos que aquela zona está, como se costuma dizer, em “pé de guerra”. Exemplo? Jerusalém foi destruída 2 vezes, sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes, e capturada e recapturada 44 vezes.

Naturalmente que ninguém pode dizer que foram os israelitas que provocaram isto. No ano 3.000 A.C. Israel estava a quase 5.000 anos de existir. Pelo que é errado tentar fazer dos israelitas os “maus da fita”, num conflito que é muito mais do que aquilo que as TVs nos mostram.

Tal como fiz, e continuo a fazer, com os meus amigos, vou lançar aqui alguns factos e opiniões para que o leitor pense neles e reveja, mude ou até confirme sua opinião. É como que gasolina para a mente. A ver se o motor do intelecto começa a trabalhar.

a) A Terra Santa é-o para muitas religiões, e Jerusalém é a Cidade Santa dos Cristãos dos Judeus e dos Muçulmanos. Nela se encontram o Muro das Lamentações, um dos locais mais sagrados para os Judeus. A Basílica do Santo Sepulcro (onde se diz que Jesus Cristo foi crucificado, sepultado e onde ressuscitou), um dos locais mais sagrados para os Cristãos. Ou a Mesquita de Al-Aqsa, um dos locais mais sagrados para os Muçulmanos.

b) O Sionismo (movimento que defende o direito à autodeterminação dos Judeus, e à existência de um Estado judaico em Israel iniciou-se nos finais do século XIX. Os Judeus começaram a ir para a Palestina à procura de uma vida melhor na Terra Santa. Nos anos 1930 já eram cerca de 300.000. Nessa altura Muçulmanos da Palestina, liderados pelo Grand Mufti, Haj Amin al-Husseini, começaram uma série de ataques violentos aos Judeus.

c) Muitos portugueses, desde há muitas décadas, emigram para terras que não são suas, e lá se estabelecem, na procura de uma vida melhor. Contam-se aos milhões aqueles que são portugueses ou de origem portuguesa a viver fora de Portugal. Os casos mais flagrantes e conhecidos são os de França, onde há cerca de 1 milhão (300.000 só em Paris), Venezuela, Luxemburgo ou Canadá. Não creio que alguma vez tivessem sido hostilizados de morte.

d) Em meados dos anos 1930 os Muçulmanos da Palestina liderados pelo Grand Mufti, Haj Amin al-Husseini, aliaram-se a Adolf Hitler e a Benito Mussolini, partilhando o mesmo objectivo de exterminar uma comunidade cuja raça não lhes agradava, os Judeus. O que aconteceu nessa altura aos Judeus de toda a Europa (e do Mundo) é conhecido. O Holocausto matou 11 milhões de pessoas, entre os quais 6 milhões de Judeus.

e) Israel – constituído como Estado independente em 1948, depois de uma resolução da ONU votada favoravelmente por 72% dos países – viu-se envolvido em varias guerras. Na sua maioria, Israel foi atacado por Norte, Este e Sul (a Oeste está o Mar Mediterrâneo), estando em enorme inferioridade numérica em termos de tropas, em relação aos países que o atacavam: Egipto, Iraque, Syria, Líbano, Jordânia, Palestina, entre outros.

f) As tropas palestinianas armazenam as suas armas debaixo de escolas e hospitais, e quando atacam fazem-no a partir de zonas residênciais. Motivo? Usar civis palestinianos como escudos humanos. As mesmas tropas quebram as regras do cessar fogo ou acordos de tréguas, atacando território israelita, enquanto há médicos, militares e outros, a tentar ajudar os civis, vítimas dos “danos colaterais”.

g) Todas as semanas as autoridades de Israel enviam para Gaza vários camiões TIR com comida e medicamentos – mesmo em períodos em que não há guerra. Uma grande parte destes carregamentos é desviado ou embuscado pelas tropas do Hamas. O objectivo, dizem, é não deixar que se abra um sentimento positivo nos palestinianos para com Israel e os israelitas.

h) Em Israel, a população total é de cerca de 8 milhões. Dos quais 6 milhões são Judeus e 2 milhões são Muçulmanos. Na primeira pessoa, pude ver que esses Muçulmanos vivem, trabalham e gostam de Israel. A maioria tem, como acaba por ser natural, amigos Judeus com quem se dá bem, e não compreende o porquê do conflito, mas principalmente das atitudes de grupos como o Hamas.

i) Acho que vale a pena ver este vídeo de uma jovem palestiniana, que por acaso não é Muçulmana nem Judia, é Cristã. E está a ser ameaçada de morte por partilhar a sua experiência com o mundo.

Finalizo com uma declaração de interesses: Acho que Israel é tão culpada deste conflito como os grupos terroristas palestinianos, tendo em conta todas as dimensões do conflito. Estou convencido que existe gente imbecil e sádica dos dois lados, bem como gente boa. Visitei Israel por duas vezes em 2014, e estou longe de ter morrido de amores pelo país. Em 10 dias de estadia em Israel tive mais más experiências do que boas, apesar de estas terem valido a pena. Nunca tive – talvez por preconceito – boa imagem dos Judeus, e depois da visita a Israel isso não mudou.


O “messias” Hollande rende-se às evidências

31/03/2014

Em França o défice aumenta, a dívida aumenta, o desemprego aumenta. O partido socialista perde copiosamente as autárquicas. O “messias” Hollande, referência dos socialistas (nomeadamente de AJ Seguro e do PS português), remodela o Governo e nomeia Manuel Valls como Primeiro-Ministro.

Valls é considerado um social-liberal. Fez parte da “La Deuxième gauche”, uma corrente dentro do PS francês alternativa à esquerda de François Mitterrand (o “mon amie” de Mário Soares). É considerado com sendo “a ala direita” do PS com inclinações para a social-democracia alemã e escandinava.


O porquê das coisas, na Turquia

03/06/2013

Mustafa Kemal Atatürk foi o fundador da República da Turquia, e o seu primeiro Presidente, após ter liderado os Turcos na guerra pela sua independência em 1923 contra os aliados (França, Reino Unido, Itália, Grécia, Arménia, Índia, Georgia). Guerra essa que se sucedeu à queda do Império Otomano depois da Iª Guerra Mundial, e que mostrou a força do exército de Atatürk. Com 100.000 homens derrotou os aliados com 500.000.

Nessa altura, Atatürk colocou em prática uma estratégia de recuperação da Turquia, iniciando um programa de reformas políticas, económicas e culturais com o objectivo de transformar os pedaços do Império Otomano num Estado moderno e Europeu. A sua política baseava-se em seis pilares fundamentais. A saber: o Republicanismo, o Populismo, o Secularismo, o Revolucionismo, o Nacionalismo, o Estatismo.

O Republicanismo pretendia substituir o absolutismo da Monarquia por uma República Constitucional, onde os representantes do povo seriam eleitos. Um Estado livre, regido pela lei e pela soberania popular. O Populismo significava que Atatürk queria um Estado que estivesse ao lado do povo, mas não contra as elites. Aliás seriam estas a liderar a revolução tendo em conta o interesse geral.

O Secularismo pretendia que o Estado fosse laico, que não estivesse sujeito a nenhuma ordem religiosa. Que não houvesse qualquer interferência da religião na governação do país, e vice-versa. O Revolucionismo pretendia que a Turquia substituísse os seus conceitos e instituições tradicionais (Otomanos) por outros modernos, defendendo a necessidade de uma mudança social como estratégia para alcançar uma sociedade moderna.

O Nacionalismo pretendia que a Turquia fosse um e um só Estado, sem divisões no território ou no povo. Atatürk cultivou o ideal da nação e do povo Turco, uma nação e um povo unos. O Estatismo obedecia à ideia de Atatürk de que a Turquia só se poderia modernizar apoiada no desenvolvimento económico e tecnológico, e por isso o Estado deveria regular a actividade económica e investir em áreas em que os privados não prosperassem.

Com Atatürk a Turquia conseguiu reerguer-se e transformou-se num país moderno e desenvolvido. Criou um povo forte e que ainda nos tempos de hoje o demonstra – como mostrou na recuperação da maior depressão económica da sua história há cerca de 15 anos atrás. A Turquia é hoje um dos principais produtores mundiais de produtos agrícolas, têxteis, automóveis, navios, materiais de construção, eletrodomésticos e electrónica de consumo.

Atatürk (que significa “pai dos turcos”) é assim um herói nacional, amado por todo o povo turco. Um povo que entre 1920 e 2010 cresceu de 14.000.000 para 75.000.000. Os turcos respeitam e estão satisfeitos com o que Atatürk construiu e lhes ofereceu. Um país forte e rico com influência não só no Oriente mas também no Ocidente. Que se tinha mantido estável e pacífico até à chegada do AKP – Partido da Justiça e do Desenvolvimento.

Em 2003 o AKP, partido liderado por Erdoğan, venceu as eleições legislativas e iniciou um lento processo de colonização de lugares chave na administração central e principalmente na justiça. Em 2007, venceu com maioria e desde então muitos acontecimentos vêm perturbando a paz social. Desde a escolha de Abdullah Gül para presidente (envolvido em partidos Islâmicos) até à tentativa de levantar a proibição do uso do véu islâmico nas universidades.

Nos últimos tempos, de uma forma mais evidente, o Governo de Erdoğan tem vindo a tentar transformar um país secular e moderno numa república islâmica à imagem do Irão, Paquistão ou Afeganistão. E isso está bem visível na construção de várias Mesquitas islâmicas nas principais cidades do país e na tentativa de destruir tudo o que Atatürk construiu, bem como o seu legado e a sua imagem.

O Governo liderado por Erdoğan chegou mesmo a, nos últimos tempos, destruir edifícios históricos construídos por Atatürk, mudar a nomeação de locais (escolas ou hospitais) que tinham Atatürk no nome (passando-os mesmo para o nome da sua própria mãe), arrasar museus em memória de Atatürk e, pasme-se, chegou ao ridículo de acabar com feriados como o dia da criança ou da juventude, instituídos por Atatürk.

O que se passou nestes últimos dias começou com o que parece ser uma “simples” destruição de um parque arbóreo para a construção de mais um centro comercial. Alguns turcos manifestaram-se para o impedir, e a polícia carregou. Mas nada disto é “inofensivo”. Há motivos políticos, ideológicos e religiosos por detrás desta decisão de Erdoğan e da revolta do povo turco, que entretanto se juntou aos milhões num movimento revoltoso.

Aquele parque que Erdoğan quer destruír foi um quartel militar que albergava militares islâmicos no século XIX, e foi daí que nasceu um movimento desses militares que percorreu Istambul a assassinar militares não islâmicos. Atatürk, na altura oficial militar, trouxe de Salónica (na altura a Grécia era parte do Império Otomano) o seu exército, prendeu os militares islâmicos, destruiu o quartel e mandou plantar árvores no local.

Trata-se portanto de algo simbólico. Erdoğan quer continuar a destruir o legado de Atatürk e o povo Turco finalmente disse basta! É por isso que uma “simples” manifestação que mais parecia um protesto ambiental se transformou numa revolta do povo contra o Governo e contra o regime. Enquanto o país se revolta e nas redes sociais se relata o que acontece nas cidades da Turquia, a TV Turca (controlada por Erdoğan) mostra documentários da vida animal e históricos (sobre Hitler, pasme-se!) ou mesmo concursos de misses.


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