Eu, Portista, quero Benfica Campeão

24/05/2012

Esqueçam Eusébio e os Magriços. Esqueçam Cristiano Ronaldo ou José Mourinho. Esqueçam o país dos 3 “F”. Acabou o “Fátima, Futebol e Fado”. O novo desporto-rei em Portugal é o Basquetebol.

Ontem, como que por milagre, o Basquetebol passou de “modalidade amadora” e sem qualquer tipo de interesse a “ócio do povo”. Foi trend em todas as redes sociais e meios de comunicação social.

Para isso bastou a conjugação de dois factores: 1) O SL Benfica teve uma época futebolística péssima; 2) O SL Benfica venceu o FC Porto, num jogo de Basquetebol disputado em casa dos portistas.

Eu, que me interesso pela modalidade (aliás, por todas), passei o dia a pensar o que fazer para acompanhar o jogo, em Londres. Já que não ia ser televisionado, nem existem livescores de Basquetebol.

Qual não foi a minha surpresa, no twitter, havia gente a “relatar” ao minuto. Muitos passaram meses sem sequer tweetar sobre futebol (não dava jeito) mas ontem lá estavam a acompanhar o Basquetebol.

Depois no final veio a habitual (in)coerência. Os mesmos que, ainda nem há um ano atrás, branquearam a falta de fair play do Benfica, estavam indignadíssimos com o que se passou no final do jogo.

Pelos vistos um grupo de imbecis adeptos do FC Porto, não souberam perder e armaram distúrbios. Lamentável! Tão lamentável quanto os insultos, as agressões, a luz apagada e a rega ligada.

Mas gosto de ver as coisas pela positiva. E se é isto que é preciso para que as modalidades tenham a atenção e o mediatismo que merecem, então quero que para o ano o Benfica seja Campeão de Voleibol.


Um National Volleyball Center

15/04/2012

Escrito no Sovolei

O Voleibol está longe de ser o primeiro desporto no Reino Unido. Todos sabem que o desporto rei em terras de Sua Majestade é o futebol. Aliás, não podia ser de outra maneira, já que se diz mesmo que foram os ingleses que o inventaram.

Mas isto não invalida que todo os outros desportos sejam considerados. Aliás, sendo este o país em que o futebol é vivido com mais emoção e intensidade, surpreendeu-me pela positiva o destaque que é dado a vários outros desportos.

Há tempos, ao abrir um jornal generalista, reparei que a parte desportiva tinha 13 páginas e apenas 3 eram dedicadas ao futebol. Curiosamente eram as últimas. Antes disso vinha: Rugby, Golfe, Cavalos, Ténis, Automobilismo, Criquet, etc.

E cada desporto tinha direito a uma página inteira, com grandes fotografias e parangonas. Ora, o que vemos em Portugal? Em 13 páginas, 12 são sobre Futebol, desde a 1ª Liga até ao internacional, distritais e juniores. O resto é paisagem.

Nos jornais desportivos portugueses as modalidades são deixadas para o fim. São amalgamadas nas páginas sem grandes destaques e sem fotografias. Apenas se colocam os resultados. Não há qualquer tipo de trabalho jornalístico.

Obviamente que há excepções que confirmam a regra. E essas acontecem quando um (apenas um) determinado clube vence (sim, porque quando perde também ninguém fala), ou quando um patrocinador ou a modalidade (Federação) pagam a notícia.

Um exemplo flagrante é o Golfe. Esse desporto do povo tão praticado e apreciado em Portugal! De há uns tempos para cá tem direito a páginas inteiras nos jornais, e agora tem até um canal dedicado (SportTV Golfe). Deve ter imensa audiência.

Pois aqui no Reino Unido o Voleibol não é muito famoso e não tem muitos praticantes. Mas apesar disso, existem campeonatos bem organizados em todos os géneros e todos os escalões. Voleibol indoor, Voleibol de praia e Voleibol sentado.

E esta foi outra coisa que me surpreendeu, e que tenho a certeza que não aconteceria em Portugal. Onde está referido o Voleibol indoor e de praia, está também o sentado (para atletas deficientes). A importancia dada é a exactamente a mesma.

Ao chegar ao aeroporto deparei-me com as paredes pintadas com motivos Olímpicos, com fotos de atletas. E não, não eram fotos do Beckham ou do Rooney. Eram fotos de atletas de várias modalidades. Entre elas o Voleibol de praia e sentado.

Algo impossível de acontecer em Portugal. Apesar de o país ter modalidades em que claramente é dos melhores do mundo (como o Hóquei em Patins) parece que só existe Futebol, Cristiano Ronaldo e José Mourinho (sou apreciador de ambos).

No Reino Unido, se bem entendi, os desportos mais apreciados são o Futebol, o Ténis, a Fórmula 1, o Criquet, o Rugby, as Corridas de Cavalos (não necessáriamente por esta ordem) mas isso não impede que haja um National Volleyball Center.

É esta a grande diferença. As modalidades não são discriminadas. Há aposta e investimento, e há gente competente e interessada na sua gestão. Talvez por isso haja tantos atletas (femininos e masculinos) espalhados pelos melhores campeonatos.

Podem dizer-me que ainda assim as selecções não são fortes. A ver vamos nos JO Londres 2012. Duvido que façam pior figura que a nossa selecção feminina. Mas de qualquer forma o foco deve estar só na selecção? Ou também nos clubes e atletas?

Em Portugal, o Voleibol é a modalidade mais praticada logo a seguir ao Futebol. É mesmo a mais praticada pelas mulheres. E no entanto não se vê qualquer tipo de aposta ou investimento. E a culpa não é dos atletas, mas de quem a gere.

O Voleibol, por envolver centenas de milhares de pessoas, tem um potencial imenso em Portugal. E quem de direito, não está a conseguir potencializa-lo, porque pura e simplesmente não se interessa. Não é por falta de capacidades!

Dir-me-ão “Mas afinal de contas o que tu queres é a aposta numa espécie de National Volleyball Center? Tipo Saquarema no Brasil? E onde vais arranjar o dinheiro para o fazer?”. Eu sei que o país atravessa uma situação complicada.

E também sei que um National Volleyball Center não resolvia tudo (garanto que ajudava). O que quero dizer é: E se em vez de 10 estádios de futebol tivessemos construido apenas 5… ou até 9? Podiam-se fazer muitos National [modalidade] Center!

Com isso ia não só ganhar a modalidade mas também os atletas, os técnicos, a sociedade, o país.


Opinião: O fado dos Jogos Olímpicos

03/12/2011

Artigo de opinião que escrevi para o Sovolei, e ficará arquivado também aqui:

A selecção portuguesa de voleibol falhou recentemente a sua tentativa de qualificação para os Jogos Olímpicos de Londres 2012. Com ela, gorou-se qualquer tipo de possibilidade de Portugal ter uma modalidade colectiva representada nas Olimpíadas. Mais uma vez, serão apenas atletas individuais a representar o país. Cerca de 70 atletas, na sua maioria praticantes de atletismo.

Em mais de um século (contabilizando os Jogos Olímpicos da era moderna) Portugal teve apenas 4 equipas em modalidades colectivas. Uma equipa de pólo aquático em Estocolmo 1956 e três equipas de futebol em Amesterdão 1928 (5º lugar), Atlanta 1996 (4º lugar), e Atenas 2004 (14º lugar). Todas as outras participações, com mais ou menos brilho, estiveram a cargo de atletas individuais.

Incompreensivelmente o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) dá agora como desculpa o facto de Portugal estar inserido na Europa, onde as fases de apuramento são extremamente difíceis. Vicente Moura ocupa o lugar desde 1992 (com interrupção entre 93 e 96) e descobriu 20 anos depois que estamos num continente competitivo. Talvez preferisse mudar o país para a Oceania.

Também estranhamente, Vicente Moura diz que o “futebol depende sobretudo da qualidade das novas gerações” porque o apuramento é feito pelos sub-21. E o problema das outras modalidades é qual? É precisamente o mesmo, mas indirectamente! A falta de aposta na formação no seio das modalidades ditas amadoras, é o que impede o desenvolvimento sustentado e a falta de talentos nas formações seniores.

O presidente do COP, diz que Andebol e Basquetebol têm hipóteses nulas para chegar aos Jogos Olímpicos. Diz que o Voleibol ainda não tem qualidade, falhando três fases de qualificação. E Que apenas o Futebol o pode fazer, mas não quer. Assume que a Federação Portuguesa de Futebol nunca considerou os Jogos Olímpicos como sendo prioritários, porque colide com os interesses dos clubes.

Mas o que aqui está em causa é o interesse do país, do desporto, dos atletas? Ou é o interesse de clubes e agentes? O que o Futebol tem feito no que diz respeito aos Jogos Olímpicos é vergonhoso. Um bom exemplo, é o de 2004. Com Moreira, Bruno Alves, Bosingwa, Meira, Meireles, Ronaldo, Hugo Almeida, Danny ou Carlos Martins, ficamos em último num grupo com Costa Rica, Marrocos e Iraque.

O que fez Vicente Moura para lutar contra isto? Para mudar o paradigma do desporto português, que está bêbado de Futebol? Para lutar pelas outras modalidades, ditas amadoras? Para que serve o lugar que ocupa? Apenas para colher os louros quando os atletas individuais (sabe Deus com que esforço, lutando com quem tem condições incomparavelmente melhores no seu país) vencem medalhas?

O presidente do COP já se devia ter demitido. Tal como outros, que estão agarrados aos seus lugares em Comités, Confederações, Federações e outros organismos. O seu trabalho é manifestamente incompetente. Trata apenas da gestão corrente, sem qualquer tipo de estratégia que permita desenvolver o desporto português, tendo como consequência o desenvolvimento pessoal e social dos atletas portugueses.

Para além de uma estratégia e uma política bem definidas, sabemos como faltam apoios a todas as modalidades. Nas individuais passa despercebido, porque a qualificação é feita por mínimos, e não por vitórias. Mas nas colectivas é notório, porque é preciso vencer para se qualificar. E por se tratar de um conjunto de atletas, é também necessário haver condições que agreguem vontades.

No que concerne ao Voleibol, e mesmo com as condições que temos, estamos muito perto. Era necessário que algo de fundo mudasse para que pudéssemos atingir o objectivo olímpico. Desde logo a mudança de quem lidera. O actual seleccionador diz que é preciso começar a trabalhar já na “renovação do grupo, começando a introduzir alguns jovens na competição, porque há jogadores em final de ciclo”.

Pergunto o que faz ele, junto da Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) para alterar o status quo? Para além de não ajudar no apoio aos clubes (eles sim, os únicos que têm possibilidade de “fabricar” novos talentos), ainda está imbuído da cultura da FPV, disparando sobre os próprios atletas. “Não podemos estar dependentes de quem vem ou não à Selecção”, aludiu recentemente à ausência de Hugo Gaspar.

O que queria Juan Diaz? Que Hugo Gaspar comprometesse o seu futuro como médico, para se juntar a um grupo que estava, logo à partida, derrotado pelos seus responsáveis, que nele não confiam? Infelizmente, e por culpa de quem gere a modalidade há décadas, Hugo Gaspar não pode assegurar o seu futuro como atleta de Voleibol, e por isso lutou (com esforço e privações) por uma garantia de futuro.

Juan Diaz diz que é preciso “estruturar um programa a longo prazo e cumprir as metas estipuladas”. Pergunto, há quantos chegou a Portugal? Há cerca de 10 anos! E só se lembrou agora que é preciso uma estratégia de longo prazo? Porque não a propôs ou implementou desde logo? Contribuiu activamente para que tudo ficasse na mesma, aproveitando pelo meio o talento de uma geração.

Se Portugal quer estar representado por modalidades colectivas nos Jogos Olímpicos tem de em 1º lugar limpar a estrutura dirigente nas federações desportivas; Em 2º lugar reformar as suas políticas e estratégias desportivas; Em 3º lugar dar aos clubes a liberdade para, em conjunto, decidir a maneira como formam os atletas e gerem o seu dia-a-dia; Em 4º lugar dar às associações o poder para intervir na modalidade.


Selecção Feminina – Para mal dos nossos pecados

24/08/2011

Artigo de opinião que escrevi para a rúbrica “Zona 7″ do Sovolei:

A selecção nacional de seniores femininos – liderada pela cubana Gilda Harris – vai defrontar a Áustria numa fase de pré-qualificação para os Jogos Olímpicos Londres 2012. Os jogos terão lugar nos próximos dias 2 e 3 Setembro.

Terá o leitor reparado que escrevi “selecção nacional” com letras minúsculas, quando deveria ter escrito “Selecção Nacional” com letras maiúsculas. Mas não foi por acaso ou por lapso que o fiz. Foi mesmo propositadamente.

Mais uma vez a convocatória – para uma competição tão importante – é insólita (para aplicar o termo já usado pelo Sovolei anteriormente). Ela encerra atletas que nem idades de sénior têm. Há mesmo atletas com 14 e 15 anos.

Além do mais, e curiosamente, não há uma única atleta dos clubes Campeão e Vice-Campeão Nacional. E diga-se que, tanto CD Ribeirense como CA Trofa tinham nos seus quadros atletas portuguesas de grande qualidade.

Aliás, dos 5 primeiros classificados do campeonato 2010/2011, apenas o CS Madeira está representado (e muito bem) por Fabiola Gomes. O clube com mais atletas (3) é o CF Belenenses que se quedou pelo antepenúltimo lugar.

Clubes como o GC Santo Tirso ou o Leixões SC (com equipas recheadas de atletas portuguesas), que fizeram uma boa temporada, parecem esquecidos. O primeiro não tem ninguém e o segundo tem uma atleta (que nem sequer é a mais decisiva).

Aos que acham isto normal, aconselho pesquisa pelas formações de outras selecções. Se nos dermos ao trabalho de verificar, por exemplo, as 10 mais bem classificadas do ranking FIVB, vemos que são raríssimas as atletas com menos de 20 anos.

Brasil, EUA, Japão, Itália, Rússia, China, Polónia, Cuba, Sérvia, Alemanha. Em mais de 100 atletas encontram-se meia-dúzia com menos de 20 anos. E dessas muito poucas são titulares, sendo no entanto já atletas confirmadas internacionalmente.

Mesmo a selecção Cubana (conhecida por apostar muito forte na juventude) tem poucas atletas inexperientes. Conta ultimamente com algumas de 17, 18, 19 anos. Mas vejam-se os resultados recentes? Desde 2000 que não tem um grande resultado.

Gilda Harris e companhia, podiam “brincar às casinhas” com as atletas quando e como quisessem, mas escusavam de fazer Portugal e o seu Voleibol (note-se, estes dois com maiúsculas) passar figuras tristes e descredibilizarem-se lá fora.

É que isso tem implicações e consequências. Atletas e treinadores que queiram aventurar-se no estrangeiro, são postos de lado e ridicularizados por serem portugueses. Um país com um Voleibol vergonhoso, segundo a (falsa) imagem que passa a selecção.

Se não houvesse opção até se compreendia. Mas quando se tem: Filipa Duarte, Vanessa Rodrigues, Amanda Belotto, Ana Freches, Ana Couto, Ana Filipa Félix, Natércia Tavares, Joana Resende, Catarina Costa ou Francisca Esteves.

Até Rosa Costa, Maria Carlos Marques, Catarina Mineiro, Maria Carlos Santos, Neuza Reis, Rita Fernandes, Joana Ferreira, Laura Abreu, Raquel Lacerda ou Maria Miguel Santos. E podia enumerar muitas mais de quem me estou a esquecer.

Isto não tira obviamente valor às atletas que estão convocadas. Algumas delas até merecem lá estar, como Fabiola Gomes ou Daniela Loureiro. Não merecem é hipotecar o próprio valor e crédito, jogando numa equipa sem capacidade competitiva.

As restantes atletas, apesar da sua qualidade, têm colegas bem mais experientes e fortes. Não é esta a hora delas na selecção. Muitas terão com certeza lugar no futuro, mas no presente apenas estão a fazer mal à selecção e a elas próprias.

Todos sempre ouvimos dizer que na selecção deverão estar as melhores atletas do momento. Não as mais velhas, não as mais experientes, não as mais promissoras, não as amigas. Mas as melhores. E essas não são com toda a certeza miúdas de 14 anos.

Este assunto já levantou muita polémica, nomeadamente em consequência de duas notícias publicadas pelo Sovolei. Inclusivamente levou a Lusófona VC a pedir uma audiência à FPV para avaliar e esclarecer a situação. Mas, e conclusões? Nenhuma!

Desta forma, o Voleibol Nacional e o Voleibol Feminino em particular (novamente, com letra maiúscula) continuarão a descredibilizar-se, a ridicularizar-se. Arrastando consigo atletas e clubes que, ou vão desistindo, ou vão fechando para mal dos nossos pecados.


Comunicação “dita” social dos lobbies de milhões

27/06/2011

Artigo de opinião que escrevi para a rúbrica “Zona 7” do Sovolei:

Em pleno século XXI, e num país que se diz integrado na União Europeia, custa-me ver certo tipo de coisas da comunicação “dita” social. Ela, que tantas vezes serve para denunciar (e bem) certos tipos de discriminação e sectarismo, é a primeira a fazer exactamente o mesmo, em relação a certas pessoas, entidades, sectores, temas, assuntos ou questões.

A comunicação “dita” social generalista ocupa muito do seu tempo com futebol mas não dá qualquer importância a outros desportos. O que se vê na RTP-2 uma vez por semana é apenas por obrigação de serviço público, e o que se vê na SIC uma vez de 2 em 2 meses é apenas o aproveitamente de ódios e rivalidades entres alguns imbecis adeptos dos grandes clubes.

Nenhum dos canais de televisão ou dos jornais de tiragem nacional generalistas dedica um minuto ou uma linha ao Voleibol, o 2º desporto mais praticado em Portugal, logo a seguir ao futebol. Já os jornais desportivos, uns dedicam a esta modalidade 50 linhas por semana, outros nem isso sequer. No entanto, dedicam páginas inteiras ao Golf e às Apostas, por exemplo.

O que causa esta minha revolta foi há dias ter visto no Telejornal da RTP, em horário nobre, uma notícia sobre a Selecção Nacional Masculina de Voleibol, que disputa a Liga Mundial 2011. Os menos atentos perguntarão porque estou então revoltado? É que a notícia só apareceu porque a comitiva ficou retida num aeroporto devido a uma nuvem provocada por um vulcão.

Ou seja, nem antes, nem durante, nem depois da notícia, foi feita alguma referência ao facto de a Selecção estar a disputar uma das mais importantes competições mundiais. Nem sequer foi dito que nessa altura estava na luta pela qualificação para a fase final, por ter já conseguido importantes vitórias sobre selecções bem mais cotadas e poderosas.

É incrível como pôde a mais antiga e importante estação de televisão de Portugal, dar uma notícia sobre o facto de uma Selecção Nacional estar retida por causa de uma catástrofe (e isso sim é que interessa para as audiências), sem sequer se ter dignado a saber o que ali fazia. O mesmo aconteceu quando essa mesma Selecção venceu a Liga Europeia em 2009.

No fim-de-semana que passou, estiveram em Portugal – numa “clinic” na praia de Canidelo em V.N. Gaia – Larissa e Juliana. As duas brasileiras são as melhores atletas de sempre do voleibol de praia, com vários títulos de Campeãs Mundiais, o mais recente conquistado há bem pouco tempo. Não houve um orgão de comunicação “dita” social que divulgasse isto.

Mas não tenho dúvida que, se aterrasse amanhã, no aeroporto de Lisboa, do Porto, de Faro, ou até de Beja, a namorada do Cristiano Ronaldo, iriam estar lá para a ver chegar todas as televisões, jornais e revistas. Os mesmos que, no(s) dia(s) seguinte(s) iriam encher minutos e páginas a fio com reportagens e imagens sobre coisas que não interessam nem à própria.

É esta a comunicação “dita” social que temos em Portugal. Uma comunicação “dita” social que foge ao seu dever principal (e também a sua razão de existir) de informar, preferindo ser veículo de divulgação de interesses e de lobbies milionários. Sim, porque o Futebol é isso mesmo, apenas um negócio que dá milhões a muita gente, porque de desporto já tem muito pouco.


O futebol come tudo, e não deixa nada

15/01/2011

Há dias comecei assim um artigo de opinião no Sovolei desta forma: “Portugal continua a ser um país de futebol onde Cristiano Ronaldo e José Mourinho estão a anos luz de Nélson Évora, Vanessa Fernandes ou Armindo Araújo. Qualquer futebolista português de 3ª linha tem mais espaço nos média do que Miguel Maia, Frederico Gil ou Ricardo Costa

Num país em que só há dinheiro para o futebol, só há tempo de antena para o futebol, só se fala de futebol, só o futebol move multidões… é curioso como tem de ser o automobilismo, o judo, o ténis e outros a trazerem títulos e prestígio para Portugal.

Amanhã, as capas dos jornais desportivos deveriam trazer a fotografia de Helder Rodrigues e da sua Yamaha, dando destaque ao inédito pódio (3º lugar) do piloto português no Dakar. A par, deveriam também fazer referência a Ruben Faria (cuja missão era ajudar Cyril Despres, 2º classif) que terminou em 7º.


O voleibol num país de futebóis

04/01/2011

Como muitos de vocês já sabem, sou co-administrador do único site exclusivamente dedicado ao voleibol em Portugal, o Sovolei. Regularmente escrevo no espaço dedicado à opinião, a nossa rúbrica “Zona 7”. Fi-lo mais uma vez esta semana, abordando um tema que pode interessar a quem gosta de desporto em geral. Não só aos amantes do voleibol, mas a todos. Convido-vos a ler o artigo aqui


O des(prezo)porto nacional

08/09/2010

Tal como digo na minha apresentação sou um adepto do desporto. Obviamente que desde criança o futebol preenchia grande parte dessa paixão, mas logo na juventude aprendi a apreciar outras modalidades quando fui atleta federado de Andebol e Ténis. Continuei a gostar muito de futebol mas comecei a detestar a “bola”, ou seja, a “espuma dos dias” à volta do futebol. Além disso tomei consciência da sua realidade: a falta de respeito, de civismo, de moral, de ética. A corrupção, o compadrio, a promiscuidade. Tenho por isso vindo a “desligar” do futebol e dedicar-me mais a outras modalidades como o voleibol.

Tenho por isso dedicado mais tempo a pensar nas modalidades ditas amadoras, no quão importante são para o desenvolvimento da sociedade (em particular da juventude) e no desprezo a que são votadas por parte dos responsáveis governativos de hoje. Preocupa-me sobremaneira o facto de os sucessivos Governos darem apenas e só atenção ao Futebol, que ainda por cima, é hoje mais um negócio do que um desporto (pensando bem, talvez seja mesmo essa a razão de tal atenção).

Ao contrário do futebol as outras modalidades praticadas em Portugal passam por imensas dificuldades, numa altura de crise económica e financeira em que se se torna extremamente dificil captar apoios, investimentos ou patrocínios. Consequentemente vários clubes fecham as portas, deixando milhares de pessoas sem possibilidade de desenvolver a sua actividade física, desportiva e competitiva.

Ao contrário do futebol as outras modalidades ainda podem ser uma mais valia para a sociedade. Enquanto que no “desporto rei” se cultiva a inveja entre clubes, a falta de fair-play, o ódio entre adeptos, a importância apenas do dinheiro, a imagem, o compadrio… nas outras modalidades ainda se cultiva o espírito de grupo, de sacrifício, a solidariedade, o esforço, o trabalho, o mérito, a carolice, a amizade.

Mesmo havendo tantos motivos para apostar e investir nas modalidades ditas amadoras, dedicando pelo menos tanto tempo a elas como ao futebol, os responsáveis governativos parece que não vêem ou não querem ver esta situação (e o pior cego…). Os sucessivos Secretários de Estado do Desporto têm-se focado apenas no futebol, e até imiscuido em assuntos que não lhe dizem respeito, tendo por consequência resultados catastróficos. Mas ultimamente parece haver um objectivo comum e indisfarçável: querem, à saída do Governo, conquistar lugar nas estruturas do futebol.

Temos provas de que há atletas de várias modalidades tão ou mais talentosos que os do futebol. Atletas esses que podem elevar bem alto o nome de Portugal, tornar-se modelos da juventude e contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e rica. Mas insistimos em deixar cair esses atletas, desperdiçando assim um capital que eles nos podem oferecer. Temos, nas mais diversas modalidades, imensos atletas com potencial para crescer e estar entre os melhores. Infelizmente não têm condições para evoluir, nem oportunidades para se mostrar. Tudo por falta de aposta e investimento (financeiro e humano), todo ele canalizado para o futebol.

Laurentino Dias, profissional da política (Licenciado em Direito, deputado desde 1987), é o actual Secretário de Estado do Desporto, que tem passado os seus mandatos preocupado com o futebol. Algo que se torna evidente com a intromissão indevida no Caso Carlos Queirós, que nada tem que ver com desporto. No entretanto, várias atrocidades são cometidas na gestão das outras modalidades e nada se ouve ou vê do responsável máximo pelo desporto em Portugal. Vejamos o que se passa em 3 das modalidades mais praticadas.

No ténis (20.000 atletas federados), alterou-se recentemente o regulamento das bolsas de apoio à alta competição, obrigando os atletas a participar no Campeonato Nacional, sob pena de perda de 40% do subsídio do Estado. Ora, é natural que os melhores jogadores nacionais não estejam presentes. É até um bom sinal pois significa que estão a lutar pelos rankings internacionais, competindo no estrangeiro e levando longe o nome do país. Além disso estão a fazer pela vida em torneios com prize money (ao contrário do Camp. Nacional que não tem prémios).

No atletismo (15.000 atletas federados), a respectiva Federação aprovou recentemente um novo regulamento do Campeonato Nacional de Clubes, que pelo visto viola regras comunitárias. Além do mais foi aprovado em cima do início da temporada, altura em que já vários clubes tinham contratos firmados com atletas para 2010/2011. O novo regulamento pode acabar com vários clubes e baixar o nível competitivo nacional. Isto, aliada à diminuição das já pequenas bolsas de alta competição, terá repercussões no futuro da modalidade.

No voleibol (40.000 atletas federados), a própria Federação despreza a modalidade. A gestão é feita segundo uma estratégia pessoal de poder e não tendo em vista o desenvolvimento dos intervenientes. Todos os anos há clubes das principais divisões que desistem da competição e outros que fecham as portas. Muitos tiram financiamento à formação de jovens para segurar a equipa sénior, hipotecando aos poucos o futuro. O campeonato cada vez tem menos participantes e a competitividade diminui, baixando por consequência o nível de competências.

Ultimamente as modalidades ditas amadoras têm conseguido conquistas internacionais que orgulham todos os portugueses. Conquistas essas que deviam envergonhar os futeboleiros que ganham milhões e não se esforçam nem metade. Os clubes e a selecção de Hóquei continuam a ser potências mundiais. O Sporting CP venceu a Taça Challenge em Andebol. O SL Benfica foi Campeão Europeu de Futsal. Treinadores de Basket lusos (Luís Magalhães, Mário Palma) dão cartas no Campeonato do Mundo. Vanessa Fernandes, Naide Gomes e Nélson Évora conquistam medalhas nos mundiais de Atletismo e nos Jogos Olímpicos. A atleta letã, Ineta Radevica, do FC Porto sagrou-se Campeã Europeia do salto em comprimento. A selecção masculina de Voleibol fez história ao conquistar a Liga Europeia.

Tudo isto contrasta com os casos “Saltillo” e “Queirós”, com os socos de João Pinto, Sá Pinto e Scolari, com os resultados dos recentes Euro 2008 e Mundial 2010 (mesmo com individualidades fantásticas e prémios astronómicos, a selecção de futebol desiludiu). E nem os bons resultados dos idos Euro 2004 e Mundial 2006 salvam o futebol, porque isso deve-se apenas e só ao trabalho de um homem insigne: José Mourinho. Ele que montou no FC Porto a espinha dorsal de uma selecção que jogava de olhos fechados.


Nada é perfeito, mas pode ser melhorado

08/07/2010

Como já devem ter dado conta, sou um adepto confesso do voleibol, sendo mesmo colaborador responsável pelo voleibol internacional no único site sobre voleibol em Portugal, o Sovolei. Nos últimos tempos tenho-me preocupado também em pensar o estado do voleibol nacional (exemplos aqui, aqui ou aqui).

Sendo assim, e a propósito da proposta de alterações aos quadros competitivos levada a cabo pela FPV (e que recentemente foi aprovada em Assembleia Geral) escrevi mais um artigo de opinião, que mais não serve do que para dar o meu ponto de vista e provocar o envolvimento de outros intervenientes na modalidade (atletas, técnicos, dirigentes, adeptos).

Os interessados podem ler Nada é perfeito, mas pode ser melhorado aqui.


Desporto em tempos de crise, Mourinho e futebol

24/05/2010

Já em diversas ocasiões tive oportunidade de criticar a inexistência de uma verdadeira política desportiva em Portugal. Neste país o desporto resume-se ao futebol, e é visto como um negócio. Em vez disso deveria ser visto como uma forma de a população se manter de boa saúde, ter uma vida saudável, e também de os jovens poderem crescer aprendendo os valores da exigência, do trabalho, do espírito de grupo e da competitividade.

Hoje, no blogue convidado do jornal Público, Colectividade Desportiva, o Prof. José Manuel Meirim (reconhecido especialista desportivo em Portugal) publicou um excelente artigo que deveria ser lido por todos, principalmente pelos responsáveis do governo, das federações e das associação desportivas. Entitulado Desporto em tempos de crise, de Mourinho e de futebol, pode ser lido aqui.


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