A propósito de Rui Rio ter dito que eram necessárias “balizas” para a comunicação social – ou comunicação “dita” social como ele uma vez lhe chamou, e com a qual concordo plenamente – logo vieram uns arautos da liberdade berrar e, obviamente, acenar com o 25 Abril (lá está o trauma) e a liberdade de expressão.
Curiosamente estes são os mesmos que berram também contra os despedimentos e os cortes nos salários/subsídios por, na sua opinião, serem anti-constitucionais. E o que é a Constituição senão uma “baliza”, um limite, uma restrição? As “balizas” já valem neste caso? Ou é só por se tratar do seu umbigo, do seu quintal?
Numa sociedade desenvolvida tem de haver “balizas”, limites, restrições, leis. Senão era uma Anarquia! Não uma Democracia! Eu sou adepto da liberdade mas não a confundo com libertinagem. E seria adepto da existência de poucos limites (apenas os essenciais) desde que houvesse bom senso e respeito pelo próximo.
O problema é que isso não existe. Muito menos na comunicação “dita” social, como tem estado bem à vista nos últimos anos. Que me desculpem os meus amigos jornalistas, aqueles que são bons (e raros hoje em dia) mas a liberdade de expressão e de informação não pode servir de desculpa para o que muitas vezes chega a ser “terrorismo mediático“.
Está à vista a falta de capacidade para se auto-regularem, e pior do que isso estão cada vez mais à vista as manobras por detrás dos orgãos da comunicação social para que estes sirvam como veículos ou armas, numa guerra de poder (seja ele político, empresarial ou corporativo).
Do que conheço de Rui Rio, e pelo que pude interpretar das suas palavras (não apenas das de ontem mas por exemplo das que escreveu no livro “Politica, in situ“), ele não pretende calar ninguém. Não pretende censura. Pretende, isso sim, regular e responsabilizar quando ultrapassados os limites da liberdade.
Sim, porque a liberdade de uns acaba exactamente onde começa a liberdade dos outros. Neste momento tudo é permitido, e a maioria da comunicação “dita” social nem sequer tem pejo de escrever ou dizer certas coisas, mesmo que todos saibamos que isso pretende obedecer a certos lobbys ou interesses.
E para além de muitas vezes serem tendenciosos, são também incompetentes e incendiários. Não informam, nem querem! A única coisa que sabem fazer (salvo raríssimas excepções) é chafurdar no infortúnio e na desgraça dos outros. “Quanto pior melhor“. E depois dissertar sobre o sound bite e a “espuma dos dias“.
Quanto a mim, e agora pensando nos jornalistas que prezo e aprecio, penso que até era bom para eles haver “balizas” e responsabilização. Isso afastaria da profissão os maus jornalistas, e aí eles evitavam generalizações e serem todos metidos no mesmo “saco”. Tal e qual como fazem com os políticos.