Artigo de opinião que escrevi para a rúbrica “Zona 7″ do Sovolei:
A selecção nacional de seniores femininos – liderada pela cubana Gilda Harris – vai defrontar a Áustria numa fase de pré-qualificação para os Jogos Olímpicos Londres 2012. Os jogos terão lugar nos próximos dias 2 e 3 Setembro.
Terá o leitor reparado que escrevi “selecção nacional” com letras minúsculas, quando deveria ter escrito “Selecção Nacional” com letras maiúsculas. Mas não foi por acaso ou por lapso que o fiz. Foi mesmo propositadamente.
Mais uma vez a convocatória – para uma competição tão importante – é insólita (para aplicar o termo já usado pelo Sovolei anteriormente). Ela encerra atletas que nem idades de sénior têm. Há mesmo atletas com 14 e 15 anos.
Além do mais, e curiosamente, não há uma única atleta dos clubes Campeão e Vice-Campeão Nacional. E diga-se que, tanto CD Ribeirense como CA Trofa tinham nos seus quadros atletas portuguesas de grande qualidade.
Aliás, dos 5 primeiros classificados do campeonato 2010/2011, apenas o CS Madeira está representado (e muito bem) por Fabiola Gomes. O clube com mais atletas (3) é o CF Belenenses que se quedou pelo antepenúltimo lugar.
Clubes como o GC Santo Tirso ou o Leixões SC (com equipas recheadas de atletas portuguesas), que fizeram uma boa temporada, parecem esquecidos. O primeiro não tem ninguém e o segundo tem uma atleta (que nem sequer é a mais decisiva).
Aos que acham isto normal, aconselho pesquisa pelas formações de outras selecções. Se nos dermos ao trabalho de verificar, por exemplo, as 10 mais bem classificadas do ranking FIVB, vemos que são raríssimas as atletas com menos de 20 anos.
Brasil, EUA, Japão, Itália, Rússia, China, Polónia, Cuba, Sérvia, Alemanha. Em mais de 100 atletas encontram-se meia-dúzia com menos de 20 anos. E dessas muito poucas são titulares, sendo no entanto já atletas confirmadas internacionalmente.
Mesmo a selecção Cubana (conhecida por apostar muito forte na juventude) tem poucas atletas inexperientes. Conta ultimamente com algumas de 17, 18, 19 anos. Mas vejam-se os resultados recentes? Desde 2000 que não tem um grande resultado.
Gilda Harris e companhia, podiam “brincar às casinhas” com as atletas quando e como quisessem, mas escusavam de fazer Portugal e o seu Voleibol (note-se, estes dois com maiúsculas) passar figuras tristes e descredibilizarem-se lá fora.
É que isso tem implicações e consequências. Atletas e treinadores que queiram aventurar-se no estrangeiro, são postos de lado e ridicularizados por serem portugueses. Um país com um Voleibol vergonhoso, segundo a (falsa) imagem que passa a selecção.
Se não houvesse opção até se compreendia. Mas quando se tem: Filipa Duarte, Vanessa Rodrigues, Amanda Belotto, Ana Freches, Ana Couto, Ana Filipa Félix, Natércia Tavares, Joana Resende, Catarina Costa ou Francisca Esteves.
Até Rosa Costa, Maria Carlos Marques, Catarina Mineiro, Maria Carlos Santos, Neuza Reis, Rita Fernandes, Joana Ferreira, Laura Abreu, Raquel Lacerda ou Maria Miguel Santos. E podia enumerar muitas mais de quem me estou a esquecer.
Isto não tira obviamente valor às atletas que estão convocadas. Algumas delas até merecem lá estar, como Fabiola Gomes ou Daniela Loureiro. Não merecem é hipotecar o próprio valor e crédito, jogando numa equipa sem capacidade competitiva.
As restantes atletas, apesar da sua qualidade, têm colegas bem mais experientes e fortes. Não é esta a hora delas na selecção. Muitas terão com certeza lugar no futuro, mas no presente apenas estão a fazer mal à selecção e a elas próprias.
Todos sempre ouvimos dizer que na selecção deverão estar as melhores atletas do momento. Não as mais velhas, não as mais experientes, não as mais promissoras, não as amigas. Mas as melhores. E essas não são com toda a certeza miúdas de 14 anos.
Este assunto já levantou muita polémica, nomeadamente em consequência de duas notícias publicadas pelo Sovolei. Inclusivamente levou a Lusófona VC a pedir uma audiência à FPV para avaliar e esclarecer a situação. Mas, e conclusões? Nenhuma!
Desta forma, o Voleibol Nacional e o Voleibol Feminino em particular (novamente, com letra maiúscula) continuarão a descredibilizar-se, a ridicularizar-se. Arrastando consigo atletas e clubes que, ou vão desistindo, ou vão fechando para mal dos nossos pecados.