Paulo Portas aproveitou-se da situação do país e usou-a para chantagear Pedro Passos Coelho. Resultou! Portas acabou numa posição ainda mais confortável e poderosa do que aquela que tinha quando se demitiu.
Na verdade, se Paulo Portas fica com a coordenação da política económica, da reforma do Estado e das negociações com a Troika, na realidade é ele quem ditará o rumo do Governo, e não o Primeiro-Ministro.
O cargo de Vice-Primeiro-Ministro é um cargo de enorme relevância e responsabilidade. E por isso deve ser ocupado por alguém com grande sentido de Estado, e da total confiança do Primeiro-Ministro.
Se dúvidas havia, o recente episódio demonstrou claramente que Pedro Passos Coelho não pode confiar em Paulo Portas, e que este não tem qualquer tipo de sentido de responsabilidade e muito menos de Estado.
Penso que faz sentido haver um Vice-Primeiro-Ministro em duas situações distintas: Num Governo constituído por dois partidos em coligação pré-eleitoral; Num governo constituído pelos dois maiores partidos.
De outra forma, admito que um Governo constituído por um só partido possa ter um Vice-Primeiro-Ministro no caso de o Primeiro-Ministro não ter o necessário peso político, e precise dessa figura para o apoiar.
Voltando à situação actual, creio que esta mudança no executivo é inaceitável. E tenho para mim que o Presidente da República não a devia aceitar. Por duas razões essenciais…
Primeiro porque resulta de uma inqualificável e irresponsável jogada táctica de Paulo Portas que tem por objectivo cumprir um sonho pessoal (que de outra forma sería inatingível) ser Primeiro-Ministro.
Segundo porque a mudança proposta desvirtua o resultado eleitoral das Legislativas 2011, onde claramente o povo português mandatou o PSD para dirigir o Governo do país, com apoio minoritário de outro partido.
Este Governo não é viável. Como também não o é qualquer Governo que integre uma coligação entre o PSD e o CDS, mas sem Paulo Portas e Passos Coelho. No caso de eleições, seria pior a emenda que o soneto.
Pelo que, nesta altura, e perante a gravíssima situação do país, parece-me que a única saída possível é um Governo de iniciativa Presidencial onde estejam representados PSD e PS (e quiçá CDS) respeitando o resultado das Legislativas 2011.