Sobre a corrupção no futebol

O futebol é um desporto e deveria ser tratado como tal. Infelizmente para quem gosta de futebol (do jogo em si) tornou-se num negócio muito próspero, onde falta regulação, e portanto é terreno fértil para actos ilícitos. É um negócio onde vale quase tudo, ainda que esteja supostamente sujeito às regras de mercado – consequência dos clubes serem agora empresas (SAD). Digo supostamente porque assistimos em Portugal, a episódios de clara violação das regras do mercado, sem que haja penalizações. Recentemente assistimos, por exemplo, ao anúncio da OPA ao Benfica por parte de Joe Berardo que apenas serviu para valorizar as acções do clube na bolsa de valores, e o que aconteceu? Nada! A CMVM e outras entidades reguladoras ficaram caladas e quietas.

A transformação do jogo em negócio, e da paixão em ganância, fez com que começasse a proliferar a corrupção na modalidade. Essa corrupção aparece encarnada em senhores vestidos de preto com apito na boca, denominados árbitros, a quem são pagas determinadas quantias para beneficiar este ou aquele clube. Esses senhores de preto deveriam ser como os juízes de direito, profissionais sérios e absolutamente independentes na sua actividade, porque só isso garantiria a sua isenção. Mas como, pelo contrário, eles dependem de orgãos que são controlados pelos clubes, é normal que coisas menos próprias aconteçam.

No futebol, tal como nos mercados sem regulação, a única lei existente acaba por ser a “lei do mais forte”. Esta lei determina que, quem tem mais dinheiro (para corromper) e mais poder (para ameaçar/mandar), é que controla e vence. Em Portugal é mais do que evidente que os 3 clubes grandes se sobrepõem aos outros pelo simples facto de terem mais dinheiro e mais poder. Isto é facilmente comprovado com alguns acontecimentos bem recentes: as prestações do Vitória SC e do SC Braga. Um adepto minimamente atento sabe que há 2 anos “tiraram” ao clube de Guimarães a possibilidade de se qualificar directamente para Champions League e na época passada “tiraram” a possibilidade aos Arsenalistas de lutar pelo título.

Note-se que estas são duas situações flagrantes e que, pela dimensão, podem ser mais facilmente identificadas pelo leitor. Mas o facto é que outras mais pequenas acontecem todos os fins-de-semana. Todas as santas jornadas há clubes “pequenos” que são prejudicados e injustiçados, sem que alguém responsável faça algo para repôr a verdade dos resultados, que os protagonistas desses clubes (com tanto esforço, dedicação, trabalho e mérito), conseguiram. Note-se que no caso do Vitória SC além de ter sido “roubado” dentro de portas, foi-o também na Europa do futebol (jogos com Basileia, clube suíço. Curiosamente país onde está sediada a sede da UEFA).

Tudo isto tem a conivência daqueles que, por princípio (à falta das entidades oficiais que para isso têm competência), deveriam fiscalizar: a comunicação social. Infelizmente, os jornais, TVs e rádios deste país, parecem ter um acordo pecaminoso com os 3 clubes grandes conseguindo com isso abafar os pedidos de socorro e as denúncias feitas pelos adeptos, jogadores, técnicos e dirigentes dos outros clubes. Honra seja feita a alguns orgãos de comunicação social que são a excepção – confirmando a regra – e dão voz (ainda que não com dimensão nacional) aos mais “pequenos”.

Também a maioria dos adeptos dos chamados 3 grandes (digo a maioria porque há gente de bem, como eu próprio que sou adepto do FC Porto) pactua com esta situação e nada diz ou faz. O egoísmo, a falta de respeito e de fair play, entre outros factores, faz com que esta gente se esteja a borrifar para a forma como o seu clube vence. Os fins justificam os meios, e por isso toca de votar em candidatos às direcções que possam, ser mais corruptos que o corrupto do lado. Vencer a qualquer custo é a palavra de ordem, mesmo sabendo que se atropelam todos e quaisquer princípios e valores de ética e moral.

6 thoughts on “Sobre a corrupção no futebol

  1. Caro Luís, excelente post.
    Concordo com o que afirma, acrescentaria apenas que, algumas vezes, vemos políticos a pactuarem com a infracção à lei ou seja, corrupção, lembro o caso da falta de informação e a mentira fiscal que a direcção do Benfica – no tempo de Vale e Azevedo – praticou face ao Erário Público, pois uns “amigos” no interior do governo PS de então “fecharam os olhos” e quando se soube de tal ilegalidade, apenas foi condenado o Presidente Vale e Azevedo e não o clube, que de acordo com a Lei também teria de ser condenado.
    Parabéns pelo blog.

    • Caro Daniel,

      Sem dúvida. No meio disto tudo, também o poder político compactua com esta situação vergonhosa. Veja-se a atitude do secretário de estado com a tutela do desporto. Quando assim é… não nos podemos admirar do estado de coisas. Obrigado. Apareça mais vezes por aqui.

  2. Grande post caro amigo,congratulo-me com a posiçao que assumes,com a forma limpa e despojada de clubites que analisas esta pouca vergonha que é o nosso futebol(desporto em geral)!Acredita,e tu conheces-me,que a revolta é tao grande que estou a equacionar deixar de ir ao futebol,deixar de ir ao Afonso Henriques ver o meu VITORIA,porque chego a conclusao que sou um boneco nas maos dos todos poderosos senhores do futebol…Um grande abraço e parabens pelo blog,precisamos de mais gente assim!!!

    • Caro Ricardo,

      Eu não faria isso. Faço o paralelo com a política: por vezes também discordo (e muito) da forma como age a direcção do meu partido; estou muito desiludido com a classe política e as cúpulas do PSD. No entanto não vou deixar o partido de que sou militante há mais de 10 anos. Outros fazem-no, eu não.

      Porque o partido não são as pessoas. Independentemente de quem está lá os valores e ideais em que acredito não mudam. Esses alinhados por Sá Carneiro, não se desvanecem. As pessoas passam, os partidos ficam. Nos clubes a mesma coisa, as pessoas passam e os clubes ficam.

      Se gostas de futebol, do Vitória e da verdade desportiva não podes desistir. Se atirares a toalha ao chão irás então deixar espaço livre para essa gente proliferar e continuar a destruir o futebol.

  3. Estou inteiramente de acordo com o teor do post.
    Na infeliz certeza que nada vai mudar,em Portugal,nos próximos anos.
    Liga,FPF,Governo,clubes, estão lá todos os que puseram o futebol neste estado.
    E tal como não acredito que Sócrates nos tire do buraco em que nos meteu também não creio que aqueles que montaram o “sistema” o venham a desmontar de livre vontade.
    Basta ver os maus exemplos que semana após semana os dirigentes dos chamados grandes mais o apreendiz de Braga vão dando.

    • Caro Luís,

      Não podem é deixar de lutar. Os que lutam pela verdade desportiva não podem atirar a toalha ao chão. Se a batalha tiver que durar anos (e estou de acordo consigo, irá durar com certeza) então que seja.

      Os bons não podem passar-se para o outro lado ou desistir. Têm de insistir e enfrentar as dificuldades. Se todos o fizerem, tenho a certeza que mais cedo do que se pensa, as coisas mudarão.

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